Redação / terça-feira – 15 de outubro de 2019
A criação da Reserva Mato da Onça a cada dia mostra-se acertada não só pelas atividades de conservação de caatingas, mas também por motivar a proteção da fauna pelas pessoas do entorno que, conhecendo situações de animais em risco, os trazem para a segurança da Unidade de Conservação
Na manhã do último sábado, dia 12, mais visitantes ilustres vieram até a RMO – Reserva Mato da Onça, depois de rodarem um bom trecho de estradas nada favoráveis, movidos por uma razão muito especial.
Não, desta vez não são macacos prego, mas a jovem Samira Silva e seu pai, Ivan, moradores do assentamento Pacu, na região central do município de Pão de Açúcar, que vieram trazer um jabuti para ser solto na Unidade de Conservação.
Segundo Ivan “o bichinho apareceu lá no terreno e se deixasse por lá, alguém ia pegar e fazer alguma maldade. Então, pensamos logo, eu mais Samira, que o melhor lugar era aqui, na Reserva. Aqui a gente sabe que tá seguro. Como o IBAMA já soltou aqueles outros, então viemos. Pense numa coisa boa que é poder fazer isso.”
E, na caixinha maleta do gato da tia, Samira trouxe em seu colo com todo o cuidado o jabuti, ou cágado de campina, como é chamado o animal no Nordeste, , pelos mais de vinte quilômetros de buraqueira entre o Pacu e a RMO. Ali, quieta e já meio impaciente para ganhar o mundo, uma fêmea jovem e saudável.
“Aqui a tartaruga vai ficar bem, solta, andando com os outros que estão pela aí. Ninguém vai fazer maldade com ela”, disse Samira, deixando clara a importância e a necessidade de Unidades de Conservação com a Reserva Mato da Onça em uma região que, a cada dia, conta com a diminuição de sua mata nativa.
Recentemente já havíamos tido a entrega de outros jabutis (desta feita na cidade, Pão de Açúcar, sede do município) por um proprietário arrependido e convertido, por inspiração pessoal, a ex-criador de bichos do mato. O cidadão, já conhecedor da fama da Reserva Mato da Onça, nos passou os animais com as mesmas alegações do Ivan: “eu sei que lá na Reserva os bichos vão estar em paz. Nunca mais quero saber de criar bicho, lugar de bicho é solto no mato.”
As diversas solturas de animais na RMO realizadas pelo IMA – Instituto de Meio Ambiente de Alagoas e o IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis tiveram impactos significativos no entorno da UC, sobretudo pela irradiação do reconhecimento “oficial” da Reserva, conferindo um pouco mais de segurança institucional, o que contribui para a intimidação da prática da caça ilegal.
Exemplos de crianças, como Samira, além de pais, como Ivan, são motivadores para as longas e diárias jornadas de manutenção da Reserva Mato da Onça.
Imagem em destaque – Samira soltando o jabuti fêmea. Foto | Canoa de Tolda.
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