Rede InfoSãoFrancisco / quinta-feira – 26 de setembro de 2019

Sem ocorrência da espécie na região do Mato da Onça há cerca de vinte anos, o acontecimento evidencia a importância e necessidade de [ mais, muito mais ] Unidades de Conservação no Baixo São Francisco

“Já perto da boca da noite, lá vinha ele, o macaco, pulando de catingueira em catingueira, descendo para a estrada, deu uma parada, calmo e, adentrando pela mata da Reserva ( RMO – Reserva Mato da Onça ), caiu no sombrio da catinga da encosta, também pulando de galho em galho e seguiu seu rumo. Que coisa linda.” Esse é o relato de Daia Fausto, co-gestora da RMO, que vinha do Viveiro da Reserva em direção ao anexo, o Sítio Barra do Riacho (direção de onde vinha o macaco) ao ter a grande oportunidade de tão raro contato.

Fazia tempo, muito tempo, que um primata da espécie (pela claridade, e por estar o bicho numa zona mais sombreada, fica a dúvida sobre ser um macaco-prego-amarelo (Sapajus libidinosus ) ou um macaco-prego-de-peito-amarelo (Sapajus xanthosternos), ambos com o topete escuro, sendo que o primeiro, já observado em bandos, sobretudo na região “das pedras”, entre a Boca do Saco e Piranhas, a montante do Mato da Onça.

A rapidez da passagem do primata não permitiu a captura de algumas imagens, infelizmente. Porém, com a fartura de frutos e pequenos animais que são parte da dieta do bicho, não seria impossível outro avistamento. O que nos deixou intrigados foi a situação de um indivíduo isolado, pois macacos pregos vivem em bandos em geral razoavelmente numerosos.

A aparição desse grande primata vem se juntar às ocorrências recentes na Reserva Mato da Onça de animais diversos dados como “sumidos” na região: como onça parda; jaguatirica; jiboia de grande porte e aves diversas. São evidências fortes da relevância de áreas seguras – as Unidades de Conservação – que possibilitam, pelo fato da existência remanescentes de caatingas, acesso à água, alimentos e proibição de caça o retorno e permanência da rica fauna do semiárido.

O progressivo avanço no restauro de diversas caatingas da RMO (mas ainda estamos longe de 2035, data da primeira grande avaliação do Programa Caatingas – Meta 2035) proporcionando o retorno de espécies importantes das caatingas, indicador inquestionável de diversos acertos no manejo da Reserva é também motivador para manter a insistência em proteger esta pequena área.

O CENP – Centro Nacional de Primatas do ICMBio e o IMA – Instituto do Meio Ambiente de Alagoas foram imediatamente notificados para a formalização da ocorrência e tomada de providências.

Imagem em destaque – Macaco-prego-amarelo – via ICMBio

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