Mata Atlântica

A Mata Atlântica cobria aproximadamente 15% do território brasileiro, quando os primeiros europeus chegaram ao Brasil, em 1500. É considerado Patrimônio Nacional pela Constituição Federal e abrange total ou parcialmente 18 estados brasileiros. No Nordeste abrange também os encraves florestais e brejos interioranos, no centro-oeste alcança parte dos territórios de Goiás e Mato Grosso do Sul e no Sul estende-se pelo interior, alcançando inclusive parte dos territórios da Argentina e Paraguai (Oliveira Filho e Fontes et al., 2000).

Atualmente a cobertura vegetal nativa do Bioma está reduzida a aproximadamente 27% de sua área original, incluindo os remanescentes de vegetação de campos naturais, restingas e manguezais. Cerca de 7% são remanescentes florestais bem conservados, o restante é vegetação em estágio inicial e médio de regeneração.

Cerca de 120 milhões de pessoas vivem na área da Mata Atlântica, distribuídas em mais de 3.400 municípios, correspondendo a 62% dos existentes no Brasil (IBGE, 2000). A qualidade de vida destes quase 70% da população brasileira depende da preservação dos remanescentes, os quais mantêm nascentes e fontes, regulando o fluxo dos mananciais d´água que abastecem as cidades e comunidades do interior, ajudam a regular o clima, a temperatura, a umidade, as chuvas, asseguram a fertilidade do solo e protegem escarpas e encostas de morros.

O impacto da ocupação humana e o ritmo de destruição desse bioma acentuaram-se nas últimas três décadas, resultando em severas alterações desses ecossistemas, causadas pela alta fragmentação dos habitats e pela perda de biodiversidade. O resultado atual é a perda quase total das florestas originais e a contínua devastação dos remanescentes florestais existentes, que coloca a Mata Atlântica na triste posição de ser um dos conjuntos de ecossistemas mais ameaçados de extinção no mundo. A Mata Atlântica abriga uma complexa rede de bacias hidrográficas formadas por grandes rios como o Paraná, o Tietê, o São Francisco, o Doce, o Paraíba do Sul, o Paranapanema e o Ribeira de Iguape. Essa rede é importantíssima não só para o abastecimento humano, mas também para o desenvolvimento de atividades econômicas, como a agricultura, a pecuária, a indústria e todo o processo de urbanização do País.

O Bioma Mata Atlântica é composto por um conjunto de formações florestais e ecossistemas associados que inclui a Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista, também denominada de Mata de Araucárias, Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Estacional Decidual, bem como os manguezais, as vegetações de restingas, os campos de altitude, os brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste.

O conjunto de fitofisionomias que forma a Mata Atlântica propiciou uma significativa diversificação ambiental, criando as condições adequadas para a evolução de uma comunidade rica em espécies animais e vegetais. É por este motivo que a Mata Atlântica é considerada atualmente como um dos Biomas com valores mais altos de diversidade biológica do planeta.

Mesmo reduzida e muito fragmentada, a Mata Atlântica ainda abriga grande diversidade de plantas. Considerando-se apenas o grupo das angiospermas (vegetais que apresentam suas sementes protegidas dentro de frutos), acreditase que o Brasil possua entre 55.000 e 60.000 espécies, ou seja, de 22% a 24% do total que se estima existir no mundo. Desse total, as projeções são de que a Mata Atlântica possua cerca de 20.000 espécies, ou seja, entre 33% e 36% das existentes no País.

Para se ter uma idéia da grandeza desses números, basta compará-los às estimativas de diversidade de angiospermas de alguns continentes: 17.000  espécies na América do Norte, 12.500 na Europa e entre 40.000 e 45.000 na África. É também a floresta mais rica do mundo em diversidade de árvores por unidade de área. Estudos desenvolvidos por pesquisadores do Jardim Botânico de Nova Iorque e da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), encontraram 454 espécies arbóreas numa área de um hectare do Parque Estadual da Serra do Conduru, no sul da Bahia.

Na região costeira da foz do São Francisco estão as derradeiras manchas do bioma em situação de alto risco. Imagem | via Farol da Foz | Hering

Vale ressaltar que das plantas vasculares conhecidas da Mata Atlântica 50% são endêmicas, ou seja, não ocorrem em nenhum outro lugar no planeta. O endemismo se acentua quando as espécies da flora são divididas em grupos, chegando a índices de 53,5% para árvores, 64% para palmeiras e 74,4% para bromélias. Estima-se que há no Bioma 1,6 milhão de espécies de animais, em sua maioria insetos. Algumas espécies possuem ampla distribuição, podendo ser encontradas em outras regiões, como são os casos da onça-pintada, onça-parda, gatos-omato, anta, cateto, queixada, alguns papagaios, corujas, gaviões e muitos outros.

No total, a Mata Atlântica abriga 849 espécies de aves, 370 espécies de anfíbios, 200 espécies de répteis e cerca de 350 espécies de peixes. No entanto, é a enorme quantidade de espécies endêmicas a característica marcante deste Bioma. Estão catalogadas 270 espécies de mamíferos, das quais 73 são endêmicas, entre elas 21 espécies e subespécies de primatas.

Apesar desta grande biodiversidade, a situação quanto ao futuro é extremamente grave, pois das 396 espécies de animais consideradas oficialmente ameaçadas de extinção no Brasil (Instrução Normativa MMA nº 03 de 27 de maio de 2003), 350 são da Mata Atlântica. Do total de 265 espécies de vertebrados ameaçados, 185 ocorrem na Mata Atlântica (69,8%), sendo 100 (37,7%) deles endêmicos. Das 160 aves da relação, 118 (73,7%) ocorrem nesse bioma, sendo 49 endêmicas. Entre os anfíbios, as 16 espécies indicadas como ameaçadas são consideradas endêmicas da Mata Atlântica. Das 69 espécies de mamíferos ameaçados, 38 ocorrem nesse bioma (55%), sendo 25 endêmicas, como o muriqui, também conhecido como monocarvoeiro (Brachyteles arachnoides), maior primata do continente americano e o maior mamífero endêmico do território brasileiro. Entre as 20 espécies de répteis ameaçadas, 13 ocorrem na Mata Atlântica (65%), sendo 10 endêmicas, a maioria com ocorrência restrita aos ambientes de restinga, um dos mais pressionados pela expansão urbana. Estão nessa categoria espécies como a lagartixa-da-areia (Liolaemus lutzae) e a jibóia-de-Cropan (Corallus cropanii).

Entre as principais ameaças à fauna da Mata Atlântica estão a perda de habitat e o tráfico de animais. Em um país onde a biodiversidade ainda é pouco conhecida como o Brasil, há espécies que podem ter sido extintas antes mesmo de serem catalogadas pelos cientistas e outras que, ao serem descobertas entram imediatamente para a trágica lista das ameaçadas de extinção (ie. mico-leão-dacara-preta Leontopithecus caissara e bicudinho-do-brejo Stymphalornis acutirostris ambos encontrados por pesquisadores no litoral paranaense, a menos de 300Km da cidade de São Paulo, a maior metrópole da América do Sul). Atualmente apenas cerca de 3% da área do Bioma estão protegidos em Ucs de proteção integral.

Neste sentido, o baixo percentual de UCs no Bioma é hoje uma das principais lacunas para a conservação da Mata Atlântica a longo prazo. Para agravar o problema, estes 3% não estão uniformemente distribuídos entre as diversas formações florestais e ecossistemas associados, fato que torna ainda mais urgentes as medidas para criação e implantação de novas UCs. Isto indica a importância de um esforço imediato para proteger todas as principais áreas bem conservadas de remanescentes do bioma atendendo, dessa forma, os compromissos já assumidos internamente pelo governo brasileiro, bem como, junto à comunidade internacional.

Fonte:
MMA – Ministério do Meio Ambiente – Publicação Áreas Prioritárias para a Consevação, Uso Sustentável e Repartição de Beneficios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA no. 09 de 23 de janeiro de 2007

A Mata Atlântica no Baixo São Francisco 

Estado de Alagoas

Apesar de praticamente toda costa brasileira ter sido ocupada pela colonização européia a partir da mesma época (século XVI), foi no Nordeste do Brasil que a Mata Atlântica foi mais rapidamente degradada. Dois ciclos econômicos foram fundamentais nesse processo: o do pau-brasil e o da cana-de-açúcar, o qual se estende até os dias atuais. Em 1990, restavam menos de 6% da extensão original da Mata Atlântica ao norte do Rio São Francisco e alguns tipos florestais,como a floresta ombrófila densa, foram reduzidos a poucas dezenas de quilômetros quadrados.

Dunas e restingas dominam a paisagem do litoral alagoano. Imagem | Canoa de Tolda

Grande parte das unidades de conservação de Alagoas não foi regularizada e implementada, e a fiscalização é insuficiente. Observa-se, no entanto, uma situação de grande potencialidade na conservação do bioma no Estado, com a efetivação de parcerias do governo estadual e do sistema de gestão da RBMA com o setor sucro-alcooleiro.

Atualmente Alagoas é o Estado que concentra o maior número de Postos Avançados da RBMA, incluindo Áreas Protegidas Particulares que somam 29.000 hectares.

Recentemente, quatro RPPNs foram criadas em áreas de usinas: a RPPN da Reserva do Gulandim, criada em 2001, com 41 ha, localizada no município de Teotônio Vilela, de propriedade das Usinas Reunidas Seresta S/A; a RPPN da Fazenda Santa Tereza, criada em 2001, com 100 ha, localizada no município de Atalaia, inserida no território da Usina Uruba, e as RPPNs Fazenda Pereira, com 290 ha, e a Fazenda Lula Lobo, com 98,6 ha, criadas em 2001, localizadas no município de Coruripe, de propriedade da S/A Usina Coruripe Açúcar e Álcool”.

O maior remanescente protegido de Alagoas está na Estação Ecológica Murici, com cerca de 6000ha de floresta. Esta área, que abriga o maior número de espécies de aves ameaçadas de extinção nas Américas, é uma das prioridades da RBMA na Região Nordeste.

Estado de Sergipe

Originalmente, a Mata Atlântica ocupava toda faixa litorânea sergipana, até a chegada do homem branco (europeu) em 1501 para tomar posse das terras indígenas, com os objetivos de explorar o pau-brasil, criar gado e plantar cana-de-açúcar.

Após mais de 500 anos de ocupação, da Mata Atlântica original restam poucos corredores ao longo da extensão litorânea do estado, ocupando cerca de 40 km² de largura do território sergipano, com formações de diferentes ecossistemas, que incluem as faixas litorâneas com suas associações das praias e dunas, com ocorrência das formações florestais perenifólias latifoliadas hidrófilas costeiras (floresta costeira), que ocorrem ao longo do todo o litoral sergipano sob a forma de pequenas manchas, exceto na porção sul do estado, onde algumas fazendas particulares se apresentam mais preservadas, localizando-se normalmente nos topos das colinas mais elevadas ou nas encostas que apresentam declividades acentuadas.

Em Sergipe, manguezais em declínio ainda guardam sua beleza.  Imagem | Canoa de Tolda

Nos locais onde foi fortemente devastada, aparecem os cultivos perenes e temporários e posteriormente as pastagens. A Mata Atlântica sergipana ocorre desde municípios localizados no São Francisco até Mangue Seco, na divisa com a Bahia.

A Mata Atlântica ainda possui raras espécies de plantas – das quais muitas são endêmicas – e ainda consegue ser o primeiro e maior bloco de florestas do Estado. A zona costeira de Sergipe é dividida em dois setores: Litoral Norte e Litoral Sul.

O ecossistema da região da Mata Atlântica envolve 5.750 Km2 do estado. Atualmente a cobertura vegetal original restringe-se a manguezais, vegetação de restinga e remanescente da floresta tropical úmida. Também denominada de mata costeira, estendendo-se de sul para norte vindo da Bahia até Alagoas. Apresenta várias associações, com praias e dunas, vegetação herbácea. Essa vegetação serve para fixar as areias das dunas móveis. Entre essas, destacam-se salsa-da-praia, grama-da-praia, feijão da praia, capim-gengibre, xique-xique ou guizo-de-cascavel.

Fonte – © 2004 Conselho Nacional Reserva da Biosfera da Mata Atlântica

Conheça mais sobre a situação da Mata Atlântica de seu município acessando o site Aqui Tem Mata, clicando aqui.

Imagem do topo – Nascentes do rio Piauí, afluente do São Francisco, Arapiraca, AL – Acervo Canoa de Tolda

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