CULTURA | AUDIOVISUAL

via BEIRAS D’ÁGUA | terça-feira – 08 de dezembro de 2020

Beiras d’Água, projeto de reunião e divulgação de acervo de filmes tendo com temática as questões socioambientais e culturais do rio São Francisco lança festival de filmes online com exibições gratuitas

Do dia 03 ao dia 19 de dezembro, a Fiocruz Pernambuco e a Cooperativa Eita realizam o I Cine Beiras d’Água. Integralmente online e gratuita, a mostra reúne a força do cinema para visibilizar as formas de lutar e r-existir nas margens do Velho Chico, através de 51 curtas e 1 longa, feitos entre 1965 e 2020.

Os programas abordam as lutas dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, camponeses e ocupações urbanas pelas suas terras, direitos e dignidade. E o impacto ambiental e social de empreendimentos como a mineração, as barragens e hidrelétricas, a transposição do rio e o agronegócio. Se os filmes falam das relações de poder sobre os corpos e territórios instaurados nesses processos, trazem também um olhar sobre a riqueza do modo de vida desses povos, evidenciando e valorizando seus saberes.

A mostra atravessa o São Francisco, da nascente à foz e nos aproxima também de suas lendas, suas belezas, seus mistérios, e nos revela as transformações desses territórios na contemporaneidade.

Acesse a Programação do 1º. Cine Beiras.

Reprodução: Beiras d’Água

Apresentação da Mostra

A bacia do São Francisco é uma das fontes de vida, história e cultura mais importantes e ameaçadas do mundo. O rio e seus 168 afluentes em Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Distrito Federal formam a maior bacia hídrica inteiramente brasileira, onde vivem 18 milhões de pessoas em 521 municípios, 3 biomas e 5 regiões metropolitanas Um pluriverso formado por mais de 40 etnias indígenas e centenas de comunidades quilombolas, camponesas, pesqueiras, vazanteiras, geraizeiras, fundo de pasto, quebradeiras de coco, pequizeiras e catingueiras. Em 50 anos, o rio São Francisco perdeu 35% de sua vazão, o que é um indicador gravíssimo de sua vulnerabilização material e simbólica. As transformações nesses territórios vem acontecendo de forma muito rápida e violenta, afetando o ecossistema e suas referências identitárias.

O Cine Beiras D’água aposta na expressividade e no alcance do cinema para visibilizar as formas de lutar e r-existir nestas margens e problematizar e explicitar processos históricos de degradação ambiental e injustiça social. A mostra é composta por 52 filmes (51 curta-metragens e um longa de 5 episódios), realizados majoritariamente no espaço geográfico da bacia do São Francisco entre 1965 e 2020 (mas em sua maioria, nos últimos 10 anos). O conjunto destas obras conectam povos, comunidades, saberes e cosmologias, abordando temas relevantes e sensíveis às comunidades das beiras dos rios e dos territórios da bacia. Esta curadoria acaba por ser também um recorte significativo do cinema realizado no interior de um país que tem a grande maioria de sua cinematografia realizada nos grandes centros urbanos.

Reprodução: Beiras d’Águas

Antes de assistir cerca de 500 filmes nesse processo de curadoria, nossa equipe realizou 2 oficinas de trabalho com movimentos sociais da Bacia, escutando, aprendendo e sistematizando pistas e diretrizes. Nossos programas abordam o impacto ambiental e social de empreendimentos como a mineração, as barragens e hidrelétricas, a transposição do rio e o agronegócio, bem como as lutas dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e camponeses pelas suas terras e pela dignidade de seus povos. Se os filmes falam das relações de poder sobre os corpos e territórios instaurados nesses processos, trazem também um olhar sobre a riqueza do modo de vida desses povos, evidenciando e valorizando seus saberes.

A mostra atravessa o São Francisco, da nascente à foz e nos aproxima também de suas lendas, suas belezas, seus mistérios, e nos revela as transformações desses territórios na contemporaneidade.

Uma questão que norteou a escolha dos filmes e nos parece fundamental para a produção audiovisual dos tempos atuais, é formulada pela pesquisadora, curadora e realizadora Amaranta César: O que os filmes podem para as lutas? O que as lutas podem para os filmes?

Nos treze programas da mostra cruzamos filmes realizados em parceria ou pelos próprios movimentos sociais, civis e ambientais no contexto de suas lutas, filmes realizados coletivamente em oficinas com processos de compartilhamento de saberes e centralidade de voz das comunidades retratadas, e filmes que tiveram sua difusão e seu desenho de produção pensados para os circuitos das artes e dos festivais de cinema, mas que se relacionam e aderem a estas causas e forjam encontros potentes e necessários com essas gentes e essas paisagens da bacia. Seja por uma urgência, que visa a transformação concreta de uma situação de conflito ou injustiça, seja para difundir uma contra- informação ou seja pela tarefa de filmar para conservar os fatos à luz da história e transmitir a memória das lutas às gerações futuras, esses filmes são exemplos de um cinema engajado, político.

Reprodução: Beiras d’Águas

Como disse a também historiadora, teórica e curadora Nicole Brenez, o cinema de intervenção existe apenas na medida em que levanta questões cinematográficas fundamentais: por que fazer uma imagem, que imagem e como? Com quem e para quem? Contra que outras imagens ela se confronta? Por que? Ou, posto de outro jeito, que história queremos?

A mostra anteriormente seria realizada como um evento físico em 120 pontos da Bacia do São Francisco, chegando em comunidades com acesso precário ao cinema e à internet. Com a pandemia a solução encontrada foi uma mostra 100% online. Isso implica um limite para algumas comunidades, mas por outro lado abrirá os filmes para o mundo além da Bacia.

Veja a Programação

◊ Imagem em destaque – Divulgação Beiras d’Água

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