REDAÇÃO | quarta-feira – 29 de abril de 2020

BIODIVERSIDADE | FAUNA DAS CAATINGAS  

No Dia da Caatinga, 28 de abril, a Reserva Mato da Onça é visitada por um dos mais significativos exemplares de sua fauna, a onça-parda, espécie que, nas caatingas do Baixo São Francisco, se encontra em risco extremo de extinção

 

A chuva pesada da madrugada ajuda o movimento dos habitantes noturnos das matas. Os gatos da noite que o digam…

Os vários dias de chuva boa no alto sertão do Baixo São Francisco estão produzindo resultados positivos nas caatingas. Ao menos naquelas objeto de algum descanso, por parte de proprietários menos agressivos, ou em processo de conservação e recuperação, como é o caso da RMO – Reserva Mato da Onça. Na Reserva, é grande o avanço não só das caatingas em regeneração natural, mas também das áreas que tiveram plantios de mudas nativas ao longo dos últimos cinco anos e meio. Os bichos estão soltos, à vontade e gostando de por estas caatingas rondar.

O percurso dos animais (em amarelo), entre o anexo e a RMO. Imagem: Canoa de Tolda sobre foto Google Earth

Na manhã de ontem, 28, ali estavam elas, bem marcadas, profundas, as patonas impressas na lama do fundo do terreiro da casa/sede da RMO. Já tendo as prévias de outra ocorrência ainda em 2018 (ver abaixo) e de jaguatirica, a alegria tranquila de, mais uma vez, evidências do acerto de opções tomadas desde a criação da Reserva Mato da Onça.

A configuração das pegadas do bicho ou bichos (foram constatadas outras pegadas menores, muito próximas, deixando a quase certa impressão de que o animal maior se fazia acompanhar por outro menor, talvez um filhote), vindo do alto da serra e seguindo o caminho para a área maior da RMO, indicavam, pela profundidade e definição das marcas, a tranquilidade com que foi feita a passagem pelo local. Sejam ele, ela, eles ou elas, estavam certos de que, ali, estavam em segurança.

Pelo grande risco em que se encontra a espécie (com cerca de apenas 2500 indivíduos no bioma caatinga – ICMBio 2013) na região e o problema cada vez mais complexo da ação de caçadores, a ocorrência foi imediatamente comunicada ao IMA – Instituto do Meio Ambiente de Alagoas e ao CENAP – Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros.

A impressão definida, perfeita: caminhar calmo de gato tranquilo. Foto: Carlos E. Ribeiro Jr. | Canoa de Tolda/InfoSãoFrancisco

Em 2018, a primeira ocorrência do grande gato, depois de anos sem registro

Em meados de 2018, em junho, quatro anos depois do início do processo de criação da RMO (e com o difícil e problemático banimento da ação de caçadores na área) foi feita a primeira ocorrência de presença de felino de grande porte junto ao CENAP. O indivíduo, de porte adulto, presume-se, passeou pelo entorno da sede da Reserva, subiu até a varanda, deixando pegadas precisas (de terra molhada sobre o piso de cerâmica branca), indicando tranquilidade em sua investida no território de humanos.

Alguns dias depois dessa constatação, durante a noite, foi possível observar perceber, pela movimentação e depois pelos grandes olhos brilhantes, sobre um carro de boi deixado no mato do terreno vizinho, uma nova visita. Em seguida, não mais sinais de tão aguardada criatura.

Da necessidade de Unidades de Conservação no Baixo São Francisco

A presença de um felino de grande porte na região do Mato da Onça, ao menos desde nossa presença no local (a partir de 1997), nunca tinha sido relatada, com exceção de felinos menores como gatos do mato, jaguatiricas, ainda no final do século passado.

As cada vez mais frequentes ocorrências de espécies até então consideradas completamente extintas confirmam a necessidade da criação de UCs na região (que conta com apenas seis unidades, entre federais, estaduais e particular), não só no bioma caatinga, mas também na mata atlântica e zona costeira.

No entanto, apenas a criação da UC, sem ações efetivas e constantes voltadas para sua conservação e impedimento de ações contrárias ao seu objetivo, não é solução, bastando ver o exemplo da caótica APA de Piaçabuçu, na foz do São Francisco.

♦ A Reserva Mato da Onça é uma iniciativa permanente da Canoa de Tolda

♦ A criação da Unidade de Conservação e suas ações faz parte do conjunto de iniciativas da permanentes da Canoa de Tolda no enfrentamento da crise das mudanças climáticas.

Imagem em destaque – Tem onça no quintal. Foto: Carlos E. Ribeiro Jr. | Canoa de Tolda/InfoSãoFrancisco

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