OPERAÇÃO DE BARRAMENTOS | VAZÕES UHE XINGÓ
REDAÇÃO via INFOSÃOFRANCISCO | segunda-feira – 09 novembro de 2020
Setor elétrico mantém a imposição de padrão insuportável para o rio e populações ribeirinhas, operando Xingó com vazão reduzida de forma drástica neste final de semana(sábado, 7 e domingo, 8), sem o necessário e devido preparo
Após anunciar o aumento das vazões defluentes da UHE Xingó para cerca de 2.900 m³/s (dois mil e novecentos metros cúbicos por segundo para o próximo dia 11 – já com pouca margem para adequação de sistemas de captação), sem comunicado prévio e preparatório, a CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, reduziu de forma considerável as vazões da UHE Xingó neste final de semana.
A redução do nível do espelho d’água foi da ordem de mais de 1.000 mm criando uma série de situações que não favorecem o caminho de solução para os conflitos crescentes com o setor elétrico ( como já apresentamos diversas vezes, na região do alto sertão e parte do Baixo São Francisco a jusante, para cada 100 m³/s temos uma variação da ordem de 190/200 mm no nível do espelho d’água).
Populações difusas submetidas a problemas de captação
Qualquer variação causa problemas, sobretudo pela situação de imprevisibilidade, ao contrário de marés naturais, totalmente previsíveis com longa margem, como temos na foz do São Francisco. A faixa da variação ocorrida cria situações difíceis, pois a partir da anunciada elevação(e manutenção) das vazões em 2.500 m³/s, são feitos ajustes em sistemas de captação.
Tubulações e linhas elétricas, por razões de segurança dos equipamentos (bombas em flutuantes), foram recuadas – seguindo a modificação do espelho d’água – em direção da linha marginal para não ficarem expostas ao mar formado, ventos, destroços flutuantes.
Há ainda a questão da eficiência e custos de operação das captações, pois com a as reduções da vazão, os sistemas chegaram a limites técnicos que determinam dimensão (diâmetro) dos cabos elétricos, por exemplo, além da potência de bombas que também é influenciada pela altura a ser vencida pela água. São pontos que significam custos não insignificantes para a grande maioria da população difusa que depende diretamente de pequenos sistemas para sua sobrevivência.
Qualidade da água
Com a redução da defluência de Xingó, muitas bombas se encontraram literalmente no meio da lama, onde a água é de péssima qualidade. Durante o sábado e o domingo foi impossível a captação de água para consumo humano.
Navegação
Naturalmente, uma variação de hum metro atinge a mobilidade coletiva, ao serem criadas restrições à navegação em diversos pontos, portos, etc. Sem o aviso da redução, no caso particular da Reserva Mato da Onça, hoje com acesso único por água – a estrada de acesso está comprometida sem que o município realize os trabalhos de adequação há vários anos, apesar de inúmeras solicitações formalizadas, ocorreu uma situação de supressão/dificultação de mobilidade, posto que as duas lanchas de serviço amanheceram em terra.
Usos múltiplos, silêncio da gestão e do licenciador
O Baixo São Francisco, além de ser diretamente (e há mais de quarenta anos) impactado pela regularização do rio com a construção da UHE Sobradinho (veja Sobradinho +40 – A desintegração do rio da integração), é submetido às variações de defluência da UHE Xingó ao longo do dia, o que mostra o completo domínio do setor elétrico sobre as águas do Velho Chico. É uma situação que não atende aos usos múltiplos das águas, onde o uso humano é prioritário, afetado pela disponibilidade precária e qualidade do precioso líquido.
Os órgãos/entes do sistema de gestão, como ANA – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico e o Comitê da Bacia permanecem silenciosos, assim como estados de Sergipe e Alagoas (e todos os municípios do Baixo afetados pelas operações, lembrando que Aracaju depende de cerca de 60% das águas do São Francisco para seu abastecimento) assim como o IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, que não estabelece, no escopo de sua função precípua de defesa de nosso patrimônio natural, um valor rígido para as variações das chamadas “vazões médias”.
Com a inaceitável validade da Autorização Especial 012/2017 que permite à CHESF a vazão mínima de 550 m³/s, o ONS – Operador Nacional do Sistema está confortavelmente instalado para determinar a operação dos barramentos sem qualquer critério ambiental ou de respeito ao uso humano.
Sem acesso instantâneo aos dados de vazões da UHE Xingó
A questão das operações de Xingó, com variações horárias ao longo do dia é um problema antigo que se agrava com a manutenção de um sistema que não possibilita o acesso aos dados que indiquem as vazões defluentes (instantâneas, a qualquer momento, disponíveis vinte e quatro horas, finais de semana e feriados) em práticas no barramento.
O acesso às leituras das vazões em operação pela UHE Xingó transcende a vinculação à Lei de Acesso à Informação, por ser informação diretamente relacionada à práticas que interferem (diariamente, ao longo das horas) no cotidiano de milhares de pessoas e em na segurança coletiva das populações ribeirinhas no Baixo São Francisco.
Deve ser citado que às 07:46 de hoje, no site da CHESF, as informações sobre as vazões horárias da UHE Xingó (já realizadas) constavam tão somente até o dia 03 de novembro.
550 m³/s! VAZÃO MÍNIMA AUTORIZADA PELO IBAMA [ainda] EM VIGOR NO BAIXO SÃO FRANCISCO
Vamos insistir:
Sob o silêncio de todos os entes da gestão, municípios, estados e da sociedade do Baixo São Francisco, Xingó segue operando com a Autorização Especial 012/2017 que permite a vazão mínima de 550 m³/s (valor abaixo dos 1.300 m³/s estabelecidos pelo Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco).
A manutenção ad eternum da autorização, quando a ANA define e estação como normal, é um precedente danoso para com o já precário processo de licenciamento de operações de barramentos, colocando em risco, pela temerária situação, não apenas o São Francisco, mas todos os demais rios brasileiros que tenham barramentos em suas bacias.
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Fontes
CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
◊ Imagem em destaque – Domingo no seco na Reserva Mato da Onça. Foto: Carlos E. Ribeiro | InfoSãoFrancisco
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