DEGRADAÇÃO AMBIENTAL | CRIME AMBIENTAL
ANTÔNIO HELENO CALDAS LARANJEIRA via INFOSÃOFRANCISCO | quarta-feira – 21 de outubro de 2020
Há um ano, as populações de mais de 1.000 municípios costeiros dos estados brasileiros das regiões Nordeste e Sudeste sofrem as consequências de um fato sem precedentes e amplamente noticiado pelos meios de comunicação: o derramamento de óleo
De acordo com informações do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), mais de 5 mil toneladas de petróleo cru, na forma de grandes manchas ou pequenas partículas, foram encontradas e retiradas das praias por ações de cidadãos e do governo do Brasil.
Retrospectiva dos fatos
Apesar de ser um assunto amplamente circulado pelos media em todo Brasil, e especialmente no Nordeste, o derramamento pede uma retrospectiva acurada para uma memória crítica sobre os fatos.
Em 30 agosto de 2019, as primeiras manchas foram avistadas na Paraíba. Em 02 de setembro as manchas já eram vistas em Pernambuco. Em 07 de setembro chegou ao Rio Grande do Norte, no dia 16 chegou ao Maranhão e no dia 21 do mesmo mês chegou ao Ceará.
A partir de 25 de setembro, a região do Baixo São-Francisco foi alertada, com foco para uma grande mancha de piche que cobria a praia de Ponta dos Mangues, em Pacatuba-SE. Em 08 outubro a mancha atingiu a foz do rio São Francisco em Piaçabuçu-AL.
No dia 11 de outubro a poluição atingiu praias da Bahia e daí por diante foram ao menos um mês de aparições (até 07 de novembro de 2019) sobretudo de partículas menores desprendidas do óleo que criavam sério risco para animais e humanos e se alastraram para Rio de Janeiro e Espírito Santo, indo além da geografia do Nordeste.
Discurso federal x discurso local
O governo federal da ocasião atribuiu à Marinha do Brasil (MB) a responsabilidade pelas investigações dos fatos enquanto à Polícia Federal (PF) coube o papel de conduzir a punição dos responsáveis pelo suposto crime ambiental, informações que estão sob sigilo de Justiça.
A ação do IBAMA, que inicialmente emitiu os primeiros relatórios oficiais com base em dados de locais atingidos pelo óleo, foi descontinuada. A desmobilização foi declarada pelo IBAMA em março de 2020, porém não indicou nenhuma responsabilidade seja de pessoa física ou jurídica, brasileira ou estrangeira. Em reportagem, o portal O Eco, apresentou casos de movimentos locais que se aliaram em torno da mobilização, ao contrário do que afirma o governo federal.
Para muitos grupos e redes locais, sem a ação de voluntários e a cooperação entre tecnologias globais e conhecimentos populares seria impossível fazer um balanço geral sobre o oleamento.
MonitOleamento: uma narrativa inovadora
O InfoSãoFrancisco foi inaugurado meses antes do surgimento das manchas de óleo atingirem nossa costa, no entanto a atuação inovadora destacou o site. O compromisso do primeiro portal de geojornalismo do Nordeste tem sido notável por aliar os interesses de cidadãos, governos locais, jornalistas e cientistas que buscam aliar dados e informações para gerar uma comunicação efetiva, capaz de mitigar os riscos e unir interessados na defesa dos seus territórios.
Divulgada com exclusividade pelo InfoSãoFrancisco, a tecnologia social MonitOil utiliza dados abertos e formulários de colaboração contínua que buscam manter um “fact-checking” efetivo e de audiência crescente online, apesar desse grave evento ambiental ser notadamente recluso nas notícias da TV, do rádio e dos impressos pelo Brasil, especialmente na região Nordeste.
O monitoramento colaborativo venceu em segundo lugar na categoria “Show me the data” competindo entre 33 equipes locais na segunda edição do hackathon “NASA Space Apps Challenge”, em Salvador-BA, comprovando seu papel inovador na construção da narrativa georreferenciada.
Essa não é uma tecnologia de automação e sim de cooperação, o conhecimento de humanos das mais diversas partes do Nordeste são o elemento-chave nessa checagem de fatos. Esse fator levou o MonitOil a ser uma das ações vencedoras do maior hackathon do mundo.
Audiência que comprova relevância
O mapa online produzido pelo MonitOil foi visualizado por mais de 53 mil computadores, smartphones e tablets entre 12 de outubro de 2019 e 12 de outubro de 2020. No primeiro mês (novembro) a visualização do monitoramento superou a marca de 10 mil, chegando a 27 mil em dezembro de 2019, de acordo com dados coletados ao longo dos 12 meses via web.
Sobre a audiência, em 2020 o interesse por parte da opinião pública pelo MonitOil obteve quase 100% de crescimento na audiência (passando de 27 mil para 53 mil, somando 26 mil acessos) algo exponencial se considerarmos que o tema saiu da cobertura da mídia nacional e contou com o InfoSãoFranscico, um portal novo, como o principal distribuidor desse conteúdo disponível para livre reprodução.
O geojornalismo mostra-se uma metodologia importante na produção de uma memória midiática sobre os fatos do oleamento do Nordeste. Neste caso podemos perceber o reconhecimento institucional de narrativas inovadoras que aliam a territorialidade nas escalas locais e a visibilidade nas escalas regionais dos fatos.
O autor
Antonio Heleno Caldas Laranjeira – Colaborador do InfoSãoFrancisco e Canoa de Tolda – Jornalista pela UFRB – Universidade Federal do Recôncavo Baiano, Pesquisador em Geocomunicações vinculado ao Grupo de Geografias da Comunicação Regional (GCR) da UFS – Universidade Federal de Sergipe. É colaborador da rede InfoSãoFrancisco.
◊ Imagem em destaque – MonitOil
Este artigo faz parte da integração e compartilhamento de conteúdos com o InfoSãoFrancisco.