VIA REDAÇÃO / quarta-feira – 04 de março de 2020
Animais silvestres devolvidos por morador do entorno da Reserva Mato da Onça é fato a ser registrado e comemorado além de ser mais um elemento a confirmar a importância da criação de Unidades de Conservação, apesar de bem conhecidas todas as dificuldades para a manutenção e aceitação pelas comunidades em seus entornos
Qual a importância de duas jovens fêmeas de jabuti (duas cágadas – de campina, não confundir com cágados da água, no falar do sertão do Baixo São Francisco) em um mundo onde tantos outros acontecimentos iniciados e findados a cada fração de segundo.
Para a RMO – Reserva Mato da Onça, toda importância, muita coisa. Não apenas pela chegada (ou retorno, como veremos) de mais dois exemplares que poderão, ao menos por um tempo, ter vida de bicho solto, de jabuti andando por aí. São mais dois, duas, no caso, criaturas que poderão contribuir para garantir uma possibilidade de futuro menos incerto para a conservação da bem detonada biodiversidade das caatingas do Baixo.
Porém, o ponto mais relevante, e aqui vemos o papel chave de Unidades de Conservação, é o fato de que as duas cágadas foram deixadas na sede da RMO, no anexo da UC, pela manhã, de forma quase que secreta (não fosse uma de nossa colegas vendo o vulto colocando os bichos na mata do riacho do Mato da Onça, cuja foz é dentro da área) por um cidadão com um histórico pouco simpático em relação ao trato com animais silvestres.
“olha o fulano ali, com dois objetos nas mãos, parecem jabutis, indo para o mato na borda do riacho…inacreditável…”
Bichos deixados no mato, a pessoa cai na calada de volta pelo trilho de saída da área (trata-se de uma servidão secular). E, para não constranger o cidadão arrependido, deixamos que se vá para em seguida ir conferir o fato inusitado.
Com efeito, ali estavam as duas fêmeas, tranquilas, se embrenhando no mato, aparentemente em bom estado. A bicha maior, com um casco muito particular, achatado, meio feinha, já era conhecida: veio num dos lotes de animais que foram libertados na RMO pelo IMA – Instituto do Meio Ambiente de Alagoas há algum tempo. Sem dúvidas, afinal os bichos não são estáticos, teria vindo do outro extremo da Reserva, passou pelo anexo, e foi bater perto do povoado onde alguém a capturou.
A outra tartaruga, ainda bem jovem, muito provavelmente pode ser parte de gerações já nascidas na Reserva (foram muitos filhotes observados – algo sem registro até então nos últimos vinte anos) cujos indivíduos foram se espalhando, o que é natural. Esses bichos andam, e muito.
Verificadas as condições físicas das tartarugas, aparentemente saudáveis, as mesmas foram alimentadas, tiveram água para beber e, colocadas no carrinho de mão, foram transportadas para a RMO.
Soltas em local onde já circulam outros indivíduos da mesma espécie, caíram no mato para suas novas vidas. Que aproveitem.
E que mais pessoas sigam o exemplo da devolução dos animais. Tomara.
♦ A Reserva Mato da Onça é uma iniciativa permanente da Canoa de Tolda
♦ A criação da Unidade de Conservação e suas ações faz parte do conjunto de iniciativas da permanentes da Canoa de Tolda no enfrentamento da crise das mudanças climáticas.
Imagem em destaque – A caminho de lugar de bicho solto. Foto | Carlos E. Ribeiro Jr. via Rede InfoSãoFrancisco © 2020 Canoa de Tolda
Você está acompanhando os conteúdos apresentados pela Canoa de Tolda e já deve ter uma avaliação a respeito do que é disponibilizado para apresentar o Baixo São Francisco real em contraposição ao oficialmente divulgado.
Tentamos fazer o melhor possível há 22 anos, expondo como aqui se vive, de fato; publicando análises sobre situações variadas do quadro socioambiental da região; investigando aplicações de recursos públicos, dentre tantos temas, e também desenvolvemos projetos culturais, como o restauro da canoa de tolda Luzitânia ou ainda pela conservação da biodiversidade do Baixo São Francisco, como a Reserva Mato da Onça e seu programa Caatingas – Meta 2035.
Por isso, para colaborar, faça uma doação. A Canoa de Tolda precisa navegar.