Via Rede InfoSãoFrancisco / quarta-feira – 11 de setembro de 2019

Com o ritmamento da produção de mudas nas novas instalações do Viveiro da RMO –
Reserva Mato da Onça, gradativamente o ciclo de organização da atividade vai tendo  agregados novos componentes e etapas, se afinando para o objetivo final que será o das mudas prontas para plantios no pátio de armazenamento.

A observação das pequenas plantas germinando ligeiro, quebrando a terra, despontando e em seguida com a brotação (de acordo com a espécie) de quase uma folhinha a cada dia é motivadora. No caso particular de espécies do semiárido, ainda mais.

A especial satisfação nessa fase inicial compensa a longa teia de atividades para chegar até aqui: a escolha das melhores matrizes, em geral em locais de difícil acesso, as coletas de sementes (muitas vezes após uma longa espera para que o ponto certo de amadurecimento seja atingido), a quebra das dormências (cada espécie tem um processo, e vários são mecânicos, como lixamento, perfuração, esmerilhamento), o preparo do substrato (que envolve a busca por solos melhores, massa vegetal, estrume recolhido em propriedades vizinhas e distantes, a limpeza da terra e areia, por peneiramento), e monótono enchimento dos sacos e a hora crucial da colocação da semente: vingará?

Com o avanço das zonas desmatadas, a desertificação dos semiáridos – não só do Baixo São Francisco – segue consolidada tendo a agravante do desastre das mudanças climáticas que, a cada dia, conferem menos tempo de preparo para o enfrentamento e convivência com quadros de temperaturas mais elevadas. A conservação de cobertura de solo, retenção e produção de água passa, forçosamente, pela conservação da biodiversidade das caatingas e dos demais biomas. Todos estão organicamente vinculados.

Algumas mudas, como as de aroeira do sertão, são germinadas em sementeiras para em seguida a transferência para os sacos. Foto | Canoa de Tolda

A exata ocasião para o plantio (os dias mais úmidos, os horários mais frescos, nos chamados invernos), se perdida pode significar um atraso de anos, já que as chuvas futuras estão mais e mais raras. Assim, plantas jovens, se não tiverem um bom desenvolvimento inicial e algum sistema de proteção, redução natural de insolação, poderão não ter a resistência suficiente para os quentíssimos verões que se anunciam.

O desaparecimento das caatingas, visível a cada dia em nossa região, sobretudo nos últimos vinte anos, compromete de forma significativa a conservação de matrizes de espécies, muitas delas na rota da extinção. E, sem as matrizes, sem as matas, não haverá floradas, sem floradas, não haverá sementes. Sem sementes, será impossível a realização de restauros de caatingas de forma adequada, com a indispensável conservação de DNA para a formação de florestas sadias.

Iniciativas de criação de UCs – Unidades de Conservação e viveiros de espécies nativas são urgentes. O caso da Reserva Mato da Onça, infelizmente, é de capacidade efetiva mínima, pelo fato de seu isolamento físico (com poucas conexões com áreas de matas próximas, já que os vizinhos infelizmente não prezam pela conservação de suas propriedades, peladas) e quantitativo no imenso território do semiárido do São Francisco.

Ainda assim, as germinações das micro/magníficas cápsulas do tempo que são as sementes e as caminhadas pelas trilhas da Reserva, onde são visíveis os resultados da lenta porém firme recuperação de suas matas, estimulam a insistência em proteger e conservar nossas caatingas.

♦ A Reserva Mato da Onça é uma iniciativa permanente da Canoa de Tolda

♦ As atividades de plantio de mudas nativas e implantação do viveiro de mudas florestais na Reserva Mato da Onça contam com o suporte do Projeto Opará – Águas do Rio São Francisco (cooperação da Canoa de Tolda com a UFS – Universidade Federal de Sergipe, através do Programa Petrobras Socioambiental)

Imagem em destaque – O dia a dia no viveiro da Reserva Mato da Onça | Canoa de tolda © 2019

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