Via ONU – Meio ambiente

sábado – 27 de julho de 2019

No Quênia, a ONU Meio Ambiente apoia um vilarejo litorâneo a conservar e restaurar mais de 4 mil hectares de mangues. Os esforços de preservação viram créditos que  podem ser vendidos pela comunidade no mercado de carbono. O projeto deve apoiar os meios de subsistência de mais de 8 mil pessoas em comunidades pesqueiras.

Quando um método comprovado de restauração ecossistêmica também ajuda a reduzir a pobreza e a construir a resiliência econômica, os governos frequentemente decidem apoiar essa estratégia por considerarem que se trata de uma solução onde todos saem ganhando.

Mangues recém-plantados em Vanga, no Quênia. Foto: ONU Meio Ambiente/GRID-Arendal/Rob Barnes

O Programa da ONU para o Meio Ambiente, o Serviço Florestal do Quênia, o Instituto de Pesquisa Marinha e de Pesca do país africano e instituições parceiras lançaram recentemente, no litoral queniano, o projeto Florestas Azuis, implementado no vilarejo de Vanga. A iniciativa propõe a comercialização de créditos de carbono associados à conservação e à restauração de manguezais.

“Todo esse vilarejo e outros vilarejos próximos dependem da pesca. E a floresta de mangue é, de fato, a área de procriação para os peixes”, afirma o chefe de Vanga, Kama Abdallah. “Se os mangues fossem destruídos, haveria fome”, acrescenta Mwasiti Salim, um dos moradores do vilarejo.

Em junho de 2019, foi lançado em Vanga o plano de gestão participativa das florestas, da Associação Florestal da Comunidade de Vajiki. A proposta é parte da iniciativa apoiada pela ONU Meio Ambiente por meio do projeto Florestas Azuis, do Fundo Global para o Meio Ambiente, e por meio do projeto de incentivos para a conservação de recifes de corais, da própria agência das Nações Unidas.

De acordo com o plano de gestão, os mangues no condado de Kwale serão coadministrados pelo Serviço Florestal do Quênia e pela Associação Florestal da
comunidade. A ONU Meio Ambiente ajudou a desenvolver o plano. Já o Instituto de Pesquisa Marinha e de Pesca do Quênia deu apoio técnico à comunidade.

O plano de gestão inclui a venda de créditos de carbono no mercado voluntário de carbono, que é verificado pela padronização do comércio de carbono Plan Vivo. A estratégia foi inspirada no sucesso de um projeto similar em Gazi, uma comunidade localizada poucos quilômetros ao norte.
Em Gazi, os créditos de carbono associados aos mangues são comercializados desde 2012.

“Globalmente, esse é um dos primeiros projetos que está comercializando créditos de carbono (oriundos) da conservação e da restauração de mangues”, afirma o especialista em manguezais da ONU Meio Ambiente, Gabriel Grimsditch.

Mudas para o plantio de manguezais em Vanga, no Quênia. Foto: ONU Meio Ambiente/GRID-Arendal/Rob Barnes

“O projeto vai conservar e restaurar mais de 4 mil hectares de mangues no condado de Kwale e apoiar os meios de subsistência de mais de 8 mil pessoas em comunidades pesqueiras na área, por meio de iniciativas de desenvolvimento da comunidade.”

Lilian Mwihaki, do Instituto de Pesquisa Marinha e de Pesca do Quênia, ressalta os benefícios do comércio de carbono. “Com a venda dos créditos de carbono, eles terão fundos que poderão injetar na comunidade. A comunidade de Gazi conseguiu comprar livros para crianças em idade escolar. Também conseguiram comprar alguns equipamentos para o hospital deles. Conseguiram (até) levar água para a comunidade.”

O lançamento do plano de gestão foi um evento de alto nível, com a participação do secretário de Gabinete do Ministério do Meio Ambiente do Quênia, Keriako Tobiko, do cientista-chefe do Instituto de Pesquisa Marinha e de Pesca, James Kairo, e do presidente do instituto, John Mumba.

Os mangues são ecossistemas raros e férteis, encontrados na fronteira entre a terra e o mar. Os manguezais sustentam uma rica biodiversidade e oferecem um valioso berçário para peixes e crustáceos. Os mangues também atuam como uma forma de defesa natural da costa contra tempestades repentinas, tsunamis, o aumento do nível do mar e a erosão. Seus solos são tanques de carbono altamente eficazes, absorvendo vastas quantidades do carbono que contribui para o aquecimento global.

Apesar de sua importância, os mangues estão desaparecendo a uma velocidade de três a cinco vezes mais alta do que as florestas no geral. O problema tem impactos ecológicos e socioeconômicos sérios. Os números atuais indicam que a cobertura de mangues no mundo diminuiu pela metade ao longo dos últimos 40 anos.

“Estimativas sobre a área total de mangues no mundo variam, mas vão de 10 milhões a 20 milhões de hectares. O projeto em Vanga cobre apenas um porcentagem minúscula dessa área, mas as suas inovações são replicáveis e ampliáveis em escala — com modificações locais — globalmente”, afirma Grimsditch.

O Dia Internacional de Conservação do Ecossistema de Mangue, 26 de julho, foi estabelecido em 2015 pela Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

Para mais informações, entre em contato com Gabriel Grimsditch: gabriel.grimsditch@un.org.

Em 23 de setembro, em Nova Iorque, acontece a Cúpula de Ação Climática da ONU, convocada pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, para aumentar as ambições dos países e acelerar as ações contra a emergência climática global. O encontro quer promover a implementação rápida do Acordo de Paris sobre Mudança do Clima.

Fonte

ONU Meio Ambiente

OS MANGUEZAIS DA FOZ DO SÃO FRANCISCO

As áreas remanescentes de manguezais na foz do São Francisco, no presente, somam algo em torno de 7.385 ha. Não estão compreendidas as áreas devastadas para atividades como carcinicultura, coqueirais, antigas lagoas de arroz, pastagens. Cartografia | Canoa de Tolda | Imagem Google Earth

Os manguezais da foz do São Francisco, sem qualquer proteção real, estão em situação crítica, definhando, rapidamente, junto com o recuo da linha costeira.

Com o aumento da salinidade na foz (a intrusão salina avança dentro do rio, e a zona costeira não conta mais com a mistura das águas doces do São Francisco), agravado sobretudo a partir da regularização das vazões abaixo dos 1.300 m³/s (hum mil e trezentos metros cúbicos por segundo – estabelecidos pelo Plano de Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco ) o equilíbrio dos frágeis e combalidos ecossistemas costeiros e estuarinos foi comprometido.

A única região de todo o Baixo São Francisco produtora de alguma biodiversidade (lembremos que as lagoas marginais não mais cumprem sua função de berçários naturais da fauna aquática, posto que desde a regularização provocada por Sobradinho, há 40 anos, eliminou as cíclicas cheias) está, hoje, não bastando todos os impactos de barramentos, sendo depredada pela expansão das atividades de carcinicultura (criação de camarões em viveiros). Atividade que conta com o licenciamento de órgãos ambientais que não cumprem sua função básica de proteger, inicialmente, o patrimônio natural.

As áreas de manguezais não são imensas e poderiam ser recuperadas e conservadas desde que sejam efetivadas Unidades de Conservação consistentes na foz. O que não é o caso.

A chamada APA do Litoral Norte, uma criação irregular do estado de Sergipe, fora do SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação, nada protege e está inserida num longo processo judicial de anos. Se algum dia vier a termo, pela pouco interesse da justiça com o caso, pouco sobrará para ser protegido e, muito provavelmente, a perda de biodiversidade será considerável.

A APA de Piaçabuçu, na faixa alagoana da foz, é submetida à pressão do turismo de massa e ocupações irregulares em sua poligonal.

Veja ainda:

Unidades de Conservação na foz do São Francisco

O Conflito da APA da Foz e a Ação Civil Pública instaurada

A Foz do São Francisco

Imagem em destaque – Vista aérea do vilarejo de Vanga, no Quênia. Foto | ONU Meio Ambiente/GRID-Arendal/Rob Barnes

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