Uma visita aos municípios de São Brás e Porto Real do Colégio, na zona de transição do agreste do Baixo São Francisco, permite constatar a dimensão do desastre que a temerária e predatória gestão do São Francisco (de seus territórios e suas águas) produziu. O que se vê é incompatível com a visão ainda no sentido, do que foi o São Francisco. Nos últimos vinte anos a água do rio recuou de forma consistente. O passivo socioambiental dos cerca de quarenta anos de regularização – a partir da construção de Sobradinho – foi potencializado em seis anos de redução da vazão regularizada, abaixo dos 1.300 m³/s estabelecidos pelo Plano de Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Longe do rio,representantes de órgãos gestores do governo federal e estados da bacia se felicitam uns aos outros pelo grande sucesso da gestão da chamada “crise hídrica”.

Carlos Eduardo Ribeiro Junior – org. / Daiane Fausto dos Santos – org. e tratamento imagens / Rede InfoSãoFrancisco

Publicado em 26 de julho de 2019

No povoado Tibiri, onde era o porto no centro da localidade, apenas uma estreita faixa de água estagnada e contaminada é o que resta de “beiço do rio”. A convivência com o São Francisco, como em centenas de outras localidades, está comprometida.

Foto | © Canoa de Tolda 2019

Os bancos de areia, assim como o leito do rio seco nas ‘novas” zonas marginais, sem qualquer fiscalização da União, são ocupados, cercados e em muitos casos, ocorrem construções de benfeitorias.

Foto | © Canoa de Tolda 2019

A visão de Tibiri para Propriá, de rio abaixo, é ocupada apenas pelo mato de bancos de areia, hoje proto ilhas, ocupadas. Por ali, se navegava, até não tanto tempo atrás. Não há água do rio visível ou que permita a navegação.

Foto | © Canoa de Tolda 2019

Mais abaixo, já em terras do Porto Real do Colégio, o antes profundo canal, não permite mais a navegação franca. Suas águas quase sem correnteza, correm fracas, sujas. O leito seco do rio, é dominado pela vegetação invasora, que também não incentiva a descida até a água.

Foto | © Canoa de Tolda 2019

Mirando de rio abaixo, o panorama é similar.

Foto | © Canoa de Tolda 2019

O canal norte, entre Porto Real do Colégio e Tibiri, em São Brás, está hoje completamente fragmentado em sub canais mais estreitos, rasos ou completamente obstruídos.

Foto | © Canoa de Tolda 2019

Em Colégio, é fácil perceber o recuo da água, hoje correndo com cerca de 800 m³/s de vazão máxima (quando efetivamente as operações impõem às populações e aos ecossistemas médias mínimas muito inferiores), considerada como “confortável” pelos gestores.

Foto | © Canoa de Tolda 2019

A remoção dos inúmeros bancos de areia, através de incremento – consistente – da vazão regularizada, uma ação urgente para evitar o irreversível para o São Francisco, não está na pauta das discussões dos órgãos gestores. A chamada segurança hídrica, para o setor elétrico, modelador do sistema de operações de barramentos, naturalmente, é a prioridade.

Foto | © Canoa de Tolda 2019

Acima de Porto Real do Colégio, AL.

Foto | © Canoa de Tolda 2019

Inaceitável, é a visão do canal brejoso no Porto Real do Colégio.

Foto | © Canoa de Tolda 2019

As margens desertas, próximas da cidade (Porto Real do Colégio), deixam evidente que a destruição do rio é refletida no enfraquecimento das ligações entre as pessoas e seus lugares. Sem vínculos, não haverá mobilizações ou reações para defender, de fato, a recuperação do patrimônio natural.

Foto | © Canoa de Tolda 2019

Mais imagens relacionadas ao Baixo São Francisco podem ser conhecidas em nosso Acervo/Fotografia.

Imagem em destaque no topo – Na cidade do Porto Real do Colégio, a imagem do Bom Jesus dos Navegantes, praticamente no seco.  Foto |  Canoa de Tolda © 2019