Via RFI – Radio France International/Deutsche Welle
Segunda feira- 06 de maio de 2019
Apresentado pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), das Nações Unidas em Paris nesta segunda feira, 6 de maio, o mais completo relatório dos últimos 50 anos sobre o quadro da natureza no mundo, deixa claro o perigo para a mesma, onde cerca de um milhão de espécies de animais e plantas estão ameaçados de extinção. Evento para curto prazo, já nas próximas décadas do século 21.
Segundo matéria da RFI – Rádio França Internacional, no lançamento do documento, o presidente do IPBES, Robert Watson, ressaltou que, ao destruir os ecossistemas, o homem “está acabando com os fundamentos da sua própria economia, seus meios de subsistência, segurança alimentar, saúde e qualidade de vida”. Ele indica que o desmatamento, a agricultura intensiva, a pesca excessiva, a urbanização desmedida e a extração mineral “alteram gravemente” 75% do meio ambiente terrestre e 66% do ambiente marinho. As mudanças climáticas e a poluição também são fatores que interferem nesse cenário de destruição.
Mas o relatório ressalta que a natureza ainda pode ser conservada e regenerada, desde que uma “mudança profunda” seja implementada na sociedade, destacou Watson. “Ainda existe possibilidade de mudança, mas já estamos atrasados. Ou passamos para a ação, ou vamos perder esse bonde”, afirmou a antropóloga brasileira Manuela Carneiro da Cunha que participou do grupo que preparou o documento. “Precisamos de mudanças no modo de fazer comércio e de explorar os recursos. Uma mudança estrutural.”
O relatório de 1.800 páginas foi elaborado pelas Nações Unidas, assinado por representantes de mais de 130 países e é considerado o mais abrangente já divulgado sobre o tema. “Estamos erodindo os fundamentos das nossas economias, meios de subsistência, segurança alimentar, saúde e qualidade de vida em todo o mundo”, diz Robert Watson, chefe da IPBES, responsável pela coordenação do estudo.
De acordo com o documento, as causas diretas da perda de espécies, em ordem de importância, são: o encolhimento do habitat e das mudanças no uso da terra; caça por alimentos ou comércio ilícito de partes do corpo de animais; as mudanças climáticas e a poluição. “Há também dois grandes fatores indiretos de perda de biodiversidade e mudança climática – o número de pessoas no mundo e sua crescente capacidade de consumir”, diz Watson.
O relatório da IPBES alerta para “uma rápida aceleração iminente na taxa global de extinção de espécies”. O ritmo da perda “já é dezenas a centenas de vezes maior do que foi, em média, nos últimos 10 milhões de anos”. Indo mais além, mostra que 75% do meio ambiente terrestre “foi severamente prejudicado” pelas atividades humanas, desde desmatamento, agricultura intensiva, pesca excessiva ou urbanização desenfreada, com 66% do ambiente marinho também afetado.
Cerca de meio milhão a um milhão de espécies estão ameaçadas de extinção, muitas em décadas, observa o estudo. O que leva muitos especialistas a considerarem que o chamado evento de extinção em massa – apenas o sexto do último meio bilhão de anos – já está em andamento. O mais recente aconteceu no fim do período Cretáceo, cerca de 66 milhões de anos atrás, provocado pelo choque de um asteroide de 10 quilômetros de diâmetro que acabou com a maioria das formas de vida do planeta.
Estima-se que a Terra é hoje o lar de cerca de oito milhões de espécies distintas, a maioria delas insetos. Um quarto das espécies catalogadas de animais e plantas já está sendo ameaçado, comido ou envenenado; pelo menos 680 espécies de vertebrados já foram extintas desde 1960; já desapareceram 559 raças domesticadas de mamíferos usados para alimentação; mais de 40% das espécies de anfíbios do mundo; mais de um terço dos mamíferos marinhos e cerca de um terço dos tubarões e peixes estão ameaçados de extinção.
Essa primeira avaliação do ecossistema mundial nos últimos 15 anos foi adotada na reunião internacional, sob a égide da ONU, que reuniu em Paris até o último sábado cientistas e diplomatas de mais de 130 países.
O grupo de especialistas trabalhou durante três anos no relatório de 1.800 páginas que deve se tornar a verdadeira referência científica sobre a biodiversidade, assim como as conclusões do Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas já são para o clima.
Foi ainda apontada a perda acelerada de ar limpo, água potável, florestas que absorvem CO2, insetos polinizadores, peixes ricos em proteínas e manguezais bloqueadores de tempestades –para mencionar apenas alguns dos poucos serviços prestados pela natureza – não são menos ameaçadores do que as mudanças climáticas, segundo o relatório.
“Precisamos reconhecer que as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade são igualmente importantes, não apenas para o meio ambiente, mas também para questões econômicas e de desenvolvimento”, afirma Robert Watson, presidente do IPBES.
“As provas são incontestáveis: a nossa destruição da biodiversidade e dos ecossistemas atingiu níveis que ameaçam o bem-estar da humanidade, pelo menos tanto quanto as alterações climáticas induzidas pelo homem”, explica Watson.
“A forma como produzimos nossos alimentos e energia está minando os serviços de regulação que recebemos da natureza”, completou Watson, acrescentando que apenas “mudanças transformadoras” na forma como produzimos e consumimos podem conter os danos.
No documento das Nações Unidas consta que a qualidade de vida vai se degradar ainda mais entre os mais pobres e nas regiões onde vivem populações autóctones muito dependentes da natureza.
Para a produção do relatório foram necessários cerca de três anos de pesquisas de mais de 450 cientistas, de 50 países. O grupo aponta que, entre as ferramentas para enfrentar o problema da devastação, o sistema agroalimentar está em primeiro plano.
Será necessária uma transformação da produção agrícola para métodos mais sustentáveis, a fim de alimentar 10 bilhões de pessoas em 2050.
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