Redação / quarta-feira – 23 de outubro de 2019
Aproveitando o inesperado aumento de vazão defluente de Xingó, a canoa Luzitânia foi deslocada do seu ancoradouro provisório para o fundeio em um dos portos da Reserva Mato da Onça onde será, depois de longa espera, objeto de grande manutenção
De retorno ao rio São Francisco em fevereiro de 2007, após trabalhos de restauro que duraram quase dez anos, a canoa Luzitânia , um dos significativos elementos do Patrimônio Naval do Baixo São Francisco, vem sendo objeto de diversas atividades de voltadas para sua conservação: manutenções, reparos, substituições de componentes danificados, por exemplo. Todas as ações foram (até antes de 2015, quando ocorreu a mudança de operações da Canoa de Tolda a partir da RMO – Reserva Mato da Onça) realizadas em Piaçabuçu, com docagem de até 30 dias, em condições precárias que não permitiram uma grande revisão.
Desde 2015 que a canoa Luzitânia (bem tombado pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) carece de uma grande manutenção com tempo maior fora da água, o que permitiria uma análise profunda do estado de conservação do casco além de reparos em alguns pontos onde ocorreram algumas infiltrações. Por diversas razões, sobretudo de recursos insuficientes, a ação foi adiada.
Porém, a atual situação da canoa exige a imediata retirada da água para verificação e reparos em alguns pontos do casco, momento que seria aproveitado para repintura geral, desmonte de peças, reparos nas velas e uma grande inspeção geral em toda a estrutura.
Prevendo a possibilidade de aumento da vazão a partir do início do período úmido na bacia do São Francisco, foram preparados calços com troncos de coqueiro para o apoio da embarcação. As peças foram provisoriamente alinhadas na zona do leito seco do rio, em frente ao Sitio Barra do Riacho, anexo da RMO.
Na sexta feira passada, dia 18, foi observado um incremento, a partir das 12:00 horas, com a cota da lâmina d’água atingindo a proximidade dos calços. No dia 21 ocorreu o mesmo modelo de operação, com a variação um pouco maior, fato que se repetiu ontem, 22. Sem qualquer informação antecipada por parte da CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco para essas operações específicas, a ANA – Agência Nacional de Águas foi oficiada para que fornecesse maiores informações.
Durante a manhã do dia de hoje foi observado que a vazão vinha aumentando a uma taxa horária segura, o que, ainda sem informações precisas, nos levou a imaginar que os incrementos permaneceriam por uma boa parte do dia.
No final da manhã de hoje, a CHESF encaminhou Carta Circular onde a empresa comunicava aumento da vazão no período da tarde e início da noite com o patamar de cerca de 1.600 m³/s. Operações que seriam mantidas ao longo do mês e, muito provavelmente, durante novembro.
Mesmo surpresos, sem o preparo inicial para a manobra de transferência da Luzitânia de seu local atual, provisório, para o porto do anexo da RMO, foi decidida a realização da operação para que não fosse perdida a oportunidade.
No inicio da tarde, a Luzitânia foi removida de seu atracadouro provisório com o auxílio de uma das lanchas de apoio e alinhada sobre o conjunto de calços, no porto do anexo da RMO.
A previsão, a partir do comunicado da CHESF de que a vazão seria reduzida a partir das 18:00 horas, é de que o procedimento de manutenção do alinhamento até o apoio sobre os calços termine por volta das 00:30.
A manobra está sendo acompanhada pelo IPHAN através da Superintendência Regional de Sergipe e do DEPAM – Departamento de Patrimônio Material e ainda pela Marinha do Brasil, através da Agência Fluvial da Capitania dos Portos de Alagoas em Penedo.
♦ A conservação da canoa Luzitânia é uma iniciativa permanente da Canoa de Tolda.
Imagem em destaque – A Luzitânia no porto da Reserva Mato da Onça. Foto | Canoa de Tolda
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