Redação / segunda-feira – 28 de outubro de 2019

Com novas adesões à iniciativa dos pontos de backup do DNA de espécies mais vulneráveis do semiárido do Baixo São Francisco, a Reserva Mato da Onça vai expandindo seus plantios remotos e criando possibilidades de parcerias para restauros de outras áreas em seu entorno

Pouco a pouco, mais pessoas vão se envolvendo na difícil corrida contra o tempo para a conservação da biodiversidade da flora do semiárido do Baixo São Francisco e aderindo às diversas ações do Programa Caatingas – Meta 2035 em curso na RMO – Reserva Mato da Onça.

Na última semana, mais duas famílias receberam um lote de mudas de espécies em situação de vulnerabilidade para que, não só atuem como protetoras de DNA, mas também iniciem o restauro de áreas próximas às sua residências (os cercados que dividem a área das casas do resto da propriedade); criando mais sombras (já pensando no enfrentamento do desastre das mudanças climáticas) para a diminuição de temperatura próxima; produzindo uma paisagem agradável além de poder, dentro de alguns anos, saborear frutos nativos como embus, seriguelas, cajás, ubaias…

Gradativamente a Reserva Mato da Onça vai contando com o reforço de pontos de backup de segurança de DNA de espécies mais vulneráveis. Imagem | Canoa de Tolda sobre Google Earth

No Pacu, assentamento distante cerca de 20 km da RMO, o colega Ivan Silva, que já colaborou em atividades de restauro da UC – Unidade de Conservação, recebeu seu segundo lote de mudas que irão complementar o plantio em seu quintal. Às margens do riacho Grande, sua propriedade tem uma bela vista para o curso d’água que merece a recuperação não só da zona ripária, mas também em outros pontos, já bem degradados.

Na varanda da casa da família do Ivan Silva, as mudas vão sendo arrumadas e trarão mais sombra para o terreiro, além de sabor, flores e passarinhos. Foto | Canoa de Tolda

“Vou cuidar dessas mudas com todo o carinho, eu vi lá na Reserva a peleja que é para produzir uma planta dessa, o rojão para fazer os plantios. Tendo força, a gente vai tentando melhorar esse terreno, hoje eu entendo que se não plantar agora, no futuro, com essa seca medonha, não vai dar, não” diz Ivan se propondo a fazer algo com sua área.

Mais próximo, na Boa Vista, localidade a 6 km da UC, seu Ninho Pinto, que contribui muito com o viveiro da Reserva ao ceder estrume de seu curral para o substrato de preparo de mudas, também recebeu um primeiro lote de mudas e em terá seu segundo.

“Rapaz, aqui a gente fez muita besteira no passado, derrubando a caatinga para botar o gado. E hoje, não há quem aguente com tanta quentura. A gente tem  de fazer alguma coisa. Ali pra cima, mesmo, perto do riacho, ali ninguém bole com pau nenhum. A gente ouve o que vocês fazem lá na Reserva e vocês estão certos, tem que salvar a caatinga, mas o povo é difícil.”

É verdade. Porém, mesmo com o povo difícil, ainda podemos vislumbrar algumas possibilidades de garantir um mínimo, mínimo mesmo, de espécies não apenas na Reserva Mato da Onça.

O entorno da casa de seu Ninho Pinto merecerá bastante dedicação para sua melhoria. Mas, nada que seja impossível. Foto | Canoa de Tolda

Diversos vizinhos dos parceiros do DNA no Cercado já começam a indagar de onde vieram as mudas bonitas, de paus que dão flor, que dão fruta, sombra, enfim, que trazem melhorias evidentes, visíveis, para a vida nesses sertões.

Que os vizinhos se tornem, também, em mais pontos nessa rede inicial que busca alguma possibilidade de conservação de nossa biodiversidade.

♦ A Reserva Mato da Onça é uma iniciativa permanente da Canoa de Tolda.

Imagem em destaque – Ivan Silva e seu pau d’arco roxo, em sua propriedade no Assentamento Pacu. Foto | Canoa de Tolda

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