PATRIMÔNIO NAVAL | OPERAÇÕES DE BARRAMENTOS
por CARLOS E. RIBEIRO JR. | sexta-feira – 26 de junho de 2020
Aumento da vazão da UHE Xingó para 1.500 m³/s sem alerta com antecedência obriga realização de operação emergencial de fechamento do casco para evitar alagamento da embarcação histórica
Com o aumento das vazões da UHE Xingó de 1.300 m³/s (hum mil e trezentos metros cúbicos por segundo) para 1.500 m³/s (hum mil e quinhentos metros cúbicos por segundo), as atividades de trabalho na manutenção da canoa Luzitânia (já comprometidas pela pandemia da Covid-19, porém sendo realizadas na Reserva Mato da Onça) tiveram mais um fator complicador na boca desta noite.
Na tarde de ontem, já com o nível da água subindo, foi tomada ciência da operação (anunciada para o mesmo dia) de subida de vazão de 1.100 m³/s para 1.300 m³/s, o que em nada afeta as atividades na embarcação (levando em conta o estabelecido pela ANA – Agência Nacional de Águas de padrão de operações NORMAL e operações de vazões defluentes da UHE Xingó em 1.100 m³/s até setembro).
Hoje, já no final do dia, após atividades diversas na Reserva Mato da Onça – que, em razão da pandemia da Covida-19, conta com apenas duas pessoas para a realização de todo o trabalho, incluindo a manutenção da canoa Luzitânia – foi observada uma consistente variação na vazão o que nos levou a consultar os correios eletrônicos onde havia (com o registro no sistema realizado às 16:19) Carta Circular da CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco comunicando a subida da vazão para 1.500 m³/s.
A diferença de nível do espelho d’água (na região da Reserva Mato da Onça) entre 1.300 m³/s e 1.500 m³/s significa uma variação de aproximadamente 400 mm, o que atinge o casco da Luzitânia que se encontra aberto (em razão da remoção de material comprometido para substituição do mesmo) na zona da popa que seria fatalmente atingida pela água.
Para minimizar os prejuízos, foram realizados procedimentos emergenciais – no início da noite – de fechamento provisório das fendas com massa epóxi subaquática, com a água chegando rapidamente às zonas afetadas e iniciando a sua entrada no casco. Os locais que ficaram submersos em primeiro momento foram obturados e a passagem de água foi controlada. As obturações serão posteriormente removidas para secagem, limpeza e restauro definitivo.
O procedimento adotado pelo setor elétrico é brutal pois, além de ignorar há anos a situação de precariedade de acesso à água de qualidade para as populações do Baixo, que convivem com águas infestadas de algas, vegetação invasora e outros organismos inadequados ao consumo humano (havendo, claro, a não observância de atendimento às necessidades da biota), também adota procedimentos operacionais incompatíveis com um convívio minimamente razoável daquelas populações e as variações das vazões.
É inconcebível que haja uma notificação de mudança de operação com variações significativas de nível sem que seja respeitada antecedência para o devido preparo. As vazões maiores são essenciais, porém a própria ANA – Agência Nacional de Águas, sem seu sítio, anuncia que as operações estão em padrão NORMAL e com a manutenção de 1.100 m³/s até setembro.
As operações de barramentos que sempre seguiram unicamente a ótica do setor elétrico nunca favoreceram uma possível convivência pacífica entre o setor e as populações: os conflitos pelas águas do São Francisco tenderão a mais e mais acirramentos, não há dúvida.
Veja abaixo as imagens das operações emergenciais para fechamento do casco da Luzitânia:
◊ A canoa Luzitânia é objeto do Projeto Luzitânia, uma iniciativa permanente da Canoa de Tolda
◊ A Reserva Mato da Onça é uma iniciativa permanente da Canoa de Tolda
Imagem em destaque – Verificando as colagens emergenciais no casco da Luzitânia. Foto: Daiane Fausto dos Santos | Canoa de Tolda/InfoSãoFrancisco
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