Via Rede InfoSãoFrancisco
quarta-feira – 24 de julho de 2019
Sem monitoramento, ou qualquer plano de ação para seu controle conhecidos, as baronesas infestam a região da foz do São Francisco comprometendo o acesso à água e a navegação, configurando, pelo seu avanço, um quadro de extrema atenção
As baronesas (Eichornia crassipes) , ou balseiros, como as plantas invasoras exóticas são conhecidas no Baixo São Francisco, não são um problema novo. Há vários anos têm sua ocorrência registrada em todo o trecho baixo do São Francisco (atualmente são um problema grave na região de Paulo Afonso, BA).
Recentemente, na foto reportagem As baronesas se propagam pelo Baixo São Francisco apresentamos várias imagens do problema que afeta particularmente os municípios de Brejo Grande, Ilha das Flores e Neópolis, em Sergipe, além de Piaçabuçu e Penedo, em Alagoas. A região da foz, no trecho do rio a jusante da barragem de Xingó, é a mais impactada pela invasão da espécie, sobretudo nos períodos de baixa mar (na foz, a amplitude das marés é da ordem de 2,00 m de maré média), quando os diversos braços do São Francisco são completamente ocupados.
As ações de monitoramento conhecidas (realizadas pela CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco sendo a mais recente de agosto de 2018) apesar de apresentarem em seus documentos a cartografia da região fisiográfica do Baixo São Francisco (trecho entre Paulo Afonso, BA e a foz do rio, no oceano Atlântico), contemplam apenas a região de Paulo Afonso: é a configuração do São Francisco oficial, distante da realidade cotidiana das populações do Baixo.
A extensão da ocupação do rio pelos bancos de baronesas é cada vez maior, criando situações de bloqueios de canais, portos, vias navegáveis, comprometendo de forma significativa a navegação (sobretudo as travessias entre Brejo Grande e Piaçabuçu, além das linhas entre Neópolis e Penedo). Os bancos, por vezes, são tão grandes e pesados que arrastam tudo o que se encontra em seu caminho, a começar pelas embarcações.
Há que se considerar que as baronesas são bio indicadores de presença de matéria orgânica nas águas (entenda-se por isso, lançamentos de efluentes de toda ordem). Observando-se que com a redução das vazões regularizadas (abaixo dos 1.300 m³/s estabelecidos pelo Plano de Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco) a partir de 2013, sem que tenham ocorrido revisões e adequações das outorgas de captação e lançamentos no rio São Francisco na mesma proporção (os efluentes lançados no São Francisco, mesmo com a redução de vazão, que chegou a 550 m³/s em 2017, obedecem exatamente ao mesmo padrão outorgado anterior ao início da redução da vazão) fica claro que a relação entre material lançado no rio e a água disponível para sua diluição só fez piorar. Proporcionalmente a matéria orgânica ficou em vantagem favorecendo o crescimento de inúmeros organismos invasores, dentre eles, as baronesas que ainda contam com grande resistência quanto à presença de salinidade na água: o caso da foz, com o avanço da chamada cunha salina.
A ausência de iniciativas dos municípios e estados afetados tanto reativas para providências em mudanças no sistema operacional dos barramentos, como para o controle e erradicação de organismos invasores e impactantes, é mais um sinal do grau da pouca importância do São Francisco no plano das atribuições dos entes públicos para um patrimônio natural essencial para a vida. Vida das populações e todos os inúmeros ecossistemas aquáticos (fluviais e costeiros) e terrestres da bacia.
Veja ainda
Monitoramento do rio São Francisco – CHESF
Monitoramento de Macrófitas Aquáticas – Caruso JR. – 2015
Monitoramento de Macrófitas Aquáticas – CHESF – julh0 – 2017
Monitoramento de Macrófitas Aquáticas – CHESF – agosto – 2018
Imagem em destaque – Canal de Brejo Grande, bloqueado por bancos de baronesas. Foto | Doca Pescador | Rede InfoSãoFrancisco © 2019
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