A Redação
No Baixo São Francisco, as dificuldades acessar a água potável em localidades e povoados ribeirinhos sem serviço de abastecimento e tratamento são crescentes. No dia a dia, vai-se mais longe da margem para buscá-la com qualidade menos comprometida do que a água da beira do rio, a água que já foi boa de beber, ali pertinho: hoje apenas algo na memória de tempos atrás.
Para quem tem uma embarcação o caminho é carregar os recipientes a bordo e buscar o veio d’água – a também lembrança da veia do rio que corria forte rumo ao mar, reduzida, no presente, a uma mera fração da carreira que fazia jus ao rio ter nome de rio – e ali enche-los, com o cuidado de coar o líquido com um tecido fino ou coador. É a única forma de separar as algas verdes, finíssimas, que se desmancham ao leve toque, ainda que em menor quantidade que na zona próxima das margens. Quem tem recursos, e esse não é o caso da imensa maioria das pessoas, compra água engarrafada, o que é uma aberração, pelo fato de vivermos às margens de um manancial de água chamado rio São Francisco.
Como muitas vezes apresentado aos chamados gestores das águas do São Francisco – sobretudo a ANA – Agência Nacional de Águas – o acesso à água de qualidade para consumo humano, potável, está cada vez mais comprometido para as populações difusas ao longo do Baixo São Francisco. A questão da salinidade na região da foz é outro problema já conhecido e não solucionado.
Com a vazão regularizada a jusante de Sobradinho abaixo dos 1.300 m³/s (mil e trezentos metros cúbicos por segundo – determinados pelo Plano de Bacia do rio São Francisco – não confundir com valores mínimos autorizados pelo IBAMA e homologados pelas resoluções da ANA) desde o início de 2013, o Baixo São Francisco está assolado pela expansão cumulativa de bancos de vegetação aquática – sobretudo da exótica elódea, conhecida como “rabo de raposa” pelas pessoas da região – associados à sobreposição de bancos de algas verdes que encontram uma estrutura para sua fixação.
O processo da invasão vegetal e algar não é recente, pois espécies exóticas invasoras como as elódeas já estão presentes abaixo de Xingó há mais de vinte anos sem que ações de controle e erradicação tenham ocorrido. Com as vazões regularizadas cada vez menores, águas aquecidas, lançamentos de efluentes que não foram ajustados de forma proporcional com a redução da vazão e temperaturas mais elevadas, os organismos estão encontrando condições favoráveis para sua expansão e consolidação. Os bancos de algas e vegetação se concentram sobretudo nas margens e croas – bancos de areia – sendo que naquelas a interferência no cotidiano das pessoas fora dos núcleos urbanos, a chamada população difusa, afeta diretamente o acesso à água de beber. As massas de plantas e algas sufocam a vegetação nativa, e, com as variações diárias de nível de espelho d’água (resultado das vazões médias mínimas adotadas para as operações de barramentos), ficam retidas nas zonas mais rasas, morrendo e se transformando em espessas camadas em decomposição.
Não são conhecidas quaisquer ações que busquem alguma solução ou ainda minimizem o problema para as populações afetadas.