No último dia 13, por volta das 15:30, durante atividades de rotina no viveiro da RMO – Reserva Mato da Onça (RPPN com o processo iniciado em 2014 e decreto final publicado em 2015), tivemos uma surpresa muito grata ao avistar um filhote de jaguatirica a cerca de vinte metros do local de trabalho. Foram alguns rápidos segundos de visão magnífica de um animal até então não registrado há pelo menos vinte anos na região do Mato da Onça, povoado a montante de Pão de Açúcar, AL, onde está situada a UC – Unidade de Conservação.
Já desde meados de 2018 o IMA – Instituto do Meio Ambiente de Alagoas foi oficiado sobre a observação de pegadas de grande felino na RMO, muito provavelmente uma onça parda. Foi relatada ainda, ao mesmo órgão, o contato visual com um grande felino em noite após o comunicado do registro das pegadas.
Nos primeiros dias de março de 2019, novos registros de pegadas de felinos de portes variados, sendo várias delas de animal maior, novamente indicando a presença de uma provável onça parda na poligonal da UC.
A ocorrência de felinos na área da RMO é um marco na difícil consolidação da UC, que como as demais desta classe (a RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural) sofre consideráveis pressões diárias por parte de pessoas moradoras do entorno, órgãos públicos e instituições diversas. No caso específico da Reserva Mato da Onça, desde o início, com a proibição da caça (acompanhada de intensiva permanência na área e discussão com moradores da região, órgãos de fiscalização), montagem de um sistema de monitoramento físico e por drone, a presença do IMA para fiscalizar a área (algo que não ocorre há um bom tempo), a fauna vem retornando com positiva intensidade.
Temos hoje na poligonal uma abrangente fauna de mamíferos (roedores, carnívoros variados); aves e pássaros (como seriemas); répteis e insetos, apresentando uma razoável distribuição ao longo da cadeia alimentar. Há, portanto, alimento para grandes gatos como a bela jaguatirica avistada, nesta semana ou ainda a onça parda, em 2018.
De imediato, os órgãos ambientais foram alertados pois é necessária a presença dos mesmos para uma discussão do significado destes animais na região com a população local além de tentativa de instalação (se possível) de equipamentos de monitoramento no(s) indivíduo(s).
A nossa perspectiva é de que possamos garantir a tranquilidade dos belos gatos para que possamos, se possível, ter novos e mais precisos contatos visuais. O que pudemos constatar, apesar da brevidade da observação, era a calma com que a jaguatirica saiu de uma capoeira (onde há inúmeros preás e mocós), passou muito próxima à nossa equipe e voltou a adentrar o mato, sem qualquer pressa: estava em casa.
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Imagem | Canoa de Tolda