Da primeira e marcante visão da canoa Luzitânia em dezembro de 1997, são vinte essenciais anos de convivência com a embarcação símbolo do Patrimônio Naval do Baixo São Francisco.

Chegamos ao final de 2006 com o restauro da Luzitânia praticamente em seu término. Os derradeiros detalhes são cuidados para que seu lançamento, enfim, ocorra no início de 2007. Peças, componentes, velas, cada item tem sua confecção finalizada. São realizadas montagens, tingimento das velas, preparo de cabos, ajuste de moitões, amarras. Nada pode falhar ou ficar para solução posterior.

Na véspera do lançamento, em fevereiro de 2007, com um pequeno incremento da vazão por ocasião de chuvas um pouco mais fortes, é grande a expectativa. São quase dez anos que se completam com a Luzitânia, enfim, pronta para correr pelas carreiras do Baixo São Francisco.

Carlos Eduardo Ribeiro Junior – org. / Daiane Fausto dos Santos – org. e tratamento imagens

Publicado em 31 de outubro de 2019

2006

Gradativamente, todos os elementos da Luzitânia vão tomando cor. BigMan, um dos engajados na pintura da canoa, faz o trabalho em uma das bolinas.

Foto | Canoa de Tolda

Mais próximos do dia do retorno à água, mas também com muitos detalhes a finalizar, como o ajuste do leme ao cadarço da popa.

Foto | Canoa de Tolda

Aos poucos a beleza da Luzitânia vai sendo desvendada. Em breve será o momento do desmonte final do estaleiro provisório e a volta às águas do São Francisco.

Foto | Canoa de Tolda

Enquanto isso, em Piaçabuçu, do outro lado do rio, uma das mais impressionantes etapas do restauro: a fundição das peças em bronze, as chamadas bolas (roldanas, no falar naval da região) dos moitões, pelo equipe de Seu Alcides. No forno da oficina, os pedaços de bronze são arrumados para que derretam mais facilmente.

Foto | Canoa de Tolda

A chama do grande maçarico a óleo irá transforma o bronze sólido em líquido para a transferência a cada molde.

Foto | Canoa de Tolda

Na oficina de Seu Alcides eram fundidos hélices de grande porte e outros componentes. Algo único em toda a região.

Foto | Canoa de Tolda

No primeiro plano, o monte onde estão os moldes que irão receber o bronze em estado líquido. Uma operação delicada que não admite erros.

Foto | Canoa de Tolda

Com a progressão do derretimento dos pedaços de bronze, é necessária a eliminação da borra, e a arrumação dos pedaços ainda em estado sólido, para a aceleração do processo.

Foto | Canoa de Tolda

Todas as manipulações são extremamente delicadas e devem ser realizadas com cuidado extremo. Uma gota de bronze líquido espirrada sobre o corpo pode produzir grandes estragos.

Foto | Canoa de Tolda

Está próximo o momento da retirada do caneco que contém o material fundido. Seu Alcides explica aos colaboradores, repassa os detalhes da manobra. Como dito, não há margem para qualquer erro, por menor que seja.

Foto | Canoa de Tolda

Cada membro da equipe toma sua posição para o erguimento do caneco com o bronze fundido a ser despejado nas formas. O momento é bem tenso.

Foto | Canoa de Tolda

Fora do forno, o caneco tem que ser esvaziado rapidamente, pois o tempo é curto. A temperatura de enchimento dos moldes tem pequena margem de esfriamento, portanto, tudo tem que ser rápido, preciso e sem falhas.

Foto | Canoa de Tolda

E o metal fundido vai para seus moldes. O enchimento tem de ser feito de modo a que não haja qualquer bolha de ar, com extremo cuidado.

Foto | Canoa de Tolda

Uma vez as peças desmoldadas, é hora da usinagem, do acabamento para que possam ficar bem ajustadas para a perfeita montagem nas caixas de madeira dos moitões.

Foto | Canoa de Tolda

As inúmeras ferragens, como a articulação de uma das bolinas, vão sendo montadas. A canoa está quase pronta.

Foto | Canoa de Tolda

Moitões das escotas dos panos, já individualmente montados, agora são montados com o material (pedaços da lonita das velas) de amortecimento de trancos nas articulações.

Foto | Canoa de Tolda

Os panos da canoa, já prontos, são lavados para a eliminação da goma natural que é aplicada na fabricação para que possam receber o tingimento.

Foto | Canoa de Tolda

Na bacia cheia de ocre em pó, os panos ficarão de molho por dois dias, para que fiquem impregnados com a mais tradicional coloração de velas de canoas do Baixo São Francisco. A tintura protege tanto dos raios solares como do mofo. Com calma, Rosa vai fazendo o tingimento.

Foto | Canoa de Tolda

Para que o ocre se aplique de modo uniforme em todo o pano, são necessários movimentos de agitação e rotação, para que cada parte do tecido permaneça submersa e receba a tintura. Isso será feito durante os dois dias do molho.

Foto | Canoa de Tolda

2007

Na véspera do lançamento, no porto da marinha de Brejo Grande, a derradeira noite da Luzitânia em terra, pronta para voltar às águas. Uma longa espera. Naquela noite, quem dormiu?

Foto | Canoa de Tolda

Desde o início da atuação da Sociedade Canoa de Tolda no Baixo São Francisco, estamos realizando o registro fotográfico da vida ao longo das margens e da zona costeira da região. A partir de então, foi montado acervo que, atualmente, é composto por cerca de oitenta mil imagens produzidas unicamente pela Canoa de Tolda. A essa coletânea temos ainda inúmeras fotografias cedidas por colaboradores, parceiros ou ainda adquiridas em outras fontes.

Naturalmente, pela sua importância natural, não só para nós, mas para o patrimônio cultural do Baixo São Francisco (na categoria específica do patrimônio naval), a canoa Luzitânia, desde sua aquisição, vem sendo intensamente objeto de captação de imagens. O acervo produzido, desde sua aquisição até o presente, nos permite, nos mais de vinte anos de convivência com a velha Luzitânia, a publicação destas matérias com seleção das imagens mais significativas desde os idos de 1997.

Nota – Algumas imagens mais antigas foram produzidas a partir de fotografias em suporte analógico, inclusive com problemas de revelação e ampliação  e não tiveram, na época, digitalização adequada, comprometendo a qualidade do registro. Tais condições não ideais são particularmente observadas em fotografias em preto e branco, pelo fato de que, em Sergipe, na época das captações, o processamento do material não era facilmente realizado.

Ainda assim, optamos em apresentar as imagens, pelo valor documental sobre como se vive (ou vivia) ao longo do Baixo São Francisco.

Esse material, assim como todo o acervo de imagens da Canoa de Tolda, está em processo de recuperação, onde negativos e fotografias em suporte de papel estão sendo novamente escaneados, classificados e organizados para posterior disponibilização ao público.

Imagem em destaque no topo – Em fevereiro de 2007, na véspera do lançamento da Luzitânia às águas do São Francisco.  Foto | Canoa de Tolda.