Criada em fins de 1874 com o objetivo de construir um mapa geológico do Brasil, a Comissão Geológica do Império, a expedição contou com um dos mais produtivos fotógrafos brasileiros do Séc. XIX, Marc Ferrez, que captou preciosas imagens do Baixo São Francisco.
Carlos Eduardo Ribeiro Junior – org. / Daiane Fausto dos Santos – org. e tratamento imagens
Publicado em 01 de outubro de 2019
A cidade do Penedo vista do lado do oeste mostrando as camadas de grés cretáceo sobre as quaes a cidade acha – se edificada; Marc Ferrez (Brazilian, 1843 – 1923); Penedo, Alagoas, Brazil; 1875 – 1876; Albumen silver print; 19.2 × 25.3 cm (7 9/16 × 9 15/16 in.); 86.XA.749.2.16
Marc Ferrez | J. Paul Getty Museum
MARC FERREZ
Principal fotógrafo brasileiro do século XIX, dono de uma obra que se equipara à dos maiores nomes da fotografia em todo o mundo, Marc Ferrez teve seus trabalhos preservados por seu neto, o pesquisador Gilberto Ferrez, constituindo rico acervo de negativos de vidro e as tiragens produzidas pelo próprio fotógrafo. O material compõe a maior parte da Coleção Gilberto Ferrez, reunião de 15 mil imagens que não tem rival entre os acervos privados de fotografia brasileira do século XIX (adquirido pelo IMS – Instituto Moreira Salles em 1998).
Mais conhecido do grande público por suas paisagens Ferrez se mostrou um artista plural e inquieto. Como fotógrafo, foi, ao sabor dos trabalhos que lhe eram encomendados, versátil nos temas. Como pesquisador de técnicas e processos, num momento em que a fotografia passava por acelerada evolução, perseguiu e desenvolveu projetos pioneiros.
Filho de franceses, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 7 de dezembro de 1843. Participou de várias Exposições Universais em Paris, Filadélfia e Amsterdã, onde teve seu trabalho premiado em diversas ocasiões. Como fotógrafo da Marinha Imperial, retratou as comemorações do fim da guerra do Paraguai, Revolta da Armada, entre outros eventos. Ficou conhecido por retratar as mudanças urbanísticas no Rio de Janeiro, paisagens e tipos urbanos e por ser pioneiro da fotografia em cores no Brasil.
Em 1875 é convidado a participar como fotógrafo da Comissão Geológica do Império, chefiada por Charles Frederick Hartt. Com a expedição viaja ao Nordeste, fotografando vistas das províncias visitadas e retratos etnográficos dos índios da tribo botocudo (BA), nunca antes fotografados. Além de Photographo da Marinha Imperial a partir de 1877 apresenta-se também como Photographo da Comissão Geológica.
A preferência por horizontes longínquos, perspectivas altas ou em plongée, planos demarcados e luzes contrastantes, a busca do elemento pitoresco a particularizar a paisagem revelam certa filiação romântica na obra do artista, num possível diálogo com pintores acadêmicos da época, como Félix Taunay (1795 – 1881) e Facchinetti (1824 – 1900). O caráter monumental atribuído à natureza em suas fotos indica a concepção romântica da natureza sublime e encantadora, que, articulada com a paisagem construída, apresenta a possibilidade de “relação harmoniosa entre o homem e a natureza”, segundo a historiadora Maria Inez Turazzi. Esse homem, personagem quase sempre presente, aparece numa atitude contemplativa e relaxada, perfeitamente integrado ao seu habitat (nota-se que muitas vezes o artista toma parte da cena enfocada).
Movido por uma curiosidade natural e pela necessidade de se destacar dentro de um mercado em plena expansão e cada vez mais competitivo, como é o da fotografia no Brasil da segunda metade do século XIX, Marc Ferrez desempenha importante papel na pesquisa e experimentação de novos equipamentos e materiais fotográficos. As principais transformações tecnológicas da fotografia perpassam seu trabalho. Destaca-se como inventor de um aparelho panorâmico para vistas fotográficas e de um sistema de duas câmaras para tomadas feitas no mar. Entre outras inovações, inaugura a terceira sala de cinema da capital em 1907, o Cine Pathé, e introduz no Brasil as chapas fotográficas coloridas (autochrome), desenvolvidas pelos irmãos Lumière. A ampla difusão de sua obra dá-se definitivamente quando suas vistas do Rio de Janeiro são impressas, entre 1890 e 1900, nas notas de 2 mil e 100 mil réis.
Produziu diversos filmes, entre eles, Nhô Anastácio chegou de viagem, considerada a primeira comédia cinematográfica brasileira. Após a morte de sua esposa, em 1914, se muda para Paris, só voltando para o Brasil em 1920. Já doente, morre no no dia 12 de janeiro de 1923.
Notas
1- As imagens apresentadas na matéria seguem o padrão original do acervo do J. Paul Getty Museum.
2- O texto das imagens é a transcrição do que foi escrito, à mão, por Marc Ferrez, em cada suporte (quando em inglês, foi mantida a língua original).
3- Foram ainda mantidas as informações de catálogo das fotografias (dimensões, tipo de processo químico) para que as pessoas possam ter perceber a relação entre a dimensão da fotografia e a qualidade da mesma, considerando-se que esta mídia ainda se encontrava em sua fase inicial em todo o mundo.
4- Foram omitidas observações dos organizadores sobre as imagens, tais como comparações com o presente, detalhes relevantes. Isso é proposital para que, nesta primeira matéria, não haja o risco de qualquer interferência na apreciação das fotografias. No futuro estão previstas matérias onde serão comparadas as imagens da época com o presente.
Imagem em destaque no topo – Recorte de vista do Penedo, AL. Foto | Marc Ferrez – Acervo J. Paul Getty Museum