2004 e 2005 foram anos particularmente agitados para a Canoa de Tolda. Foi possível a produção de um segundo documentário e, com novas operações de barragens liberando maiores vazões em pouco tempo, novamente, nos dois anos, o estaleiro de restauro da canoa Luzitânia foi devastado, em 2005 por uma terceira vez. Foi a situação que provocaria uma série de decisões, como a mudança para Brejo Grande tendo como objetivo garantir a segurança da embarcação.

Carlos Eduardo Ribeiro Junior – org. / Daiane Fausto dos Santos – org. e tratamento imagens

Publicado em 28 de junho de 2019

2004

Do Saramém, em Brejo Grande, SE, a tarde caindo com a mirada para a boca do rio, a ilha da Criminosa e as dunas na banda de Alagoas.

Imagem | Canoa de Tolda

As travessias entre Brejo Grande e Piaçabuçu, em Alagoas, na lancha Jesus é Pai, do velho Chico Bento. Grandes travessias, com a conversa na popa, pelas manhãs, tardes e noites.

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Seu Paulo da Bandeirante (uma das grandes e famosas canoas da praia, do velho Zunga, que fazia o movimento até o sertão), canoeiro de nome na margem, ainda que com graves problemas de saúde, construiu um modelo de canoa de tolda, belíssimo, detalhado, adquirido posteriormente por um colecionador do sul do país.

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Na sala de sua casa, em Brejo Grande, Seu Paulo da Bandeirante, sua obra, para a qual não se fatigava de mirar. Dias a fio, quieto, calado. Navegando em seu sentido.

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A chata Iris Raiane, de Tonho de Rosa, das duas remanescentes na época, uma, no seu porto no Bonsucesso, Poço Redondo.

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O Curralinho, povoado de chegada pós-travessia do Conselheiro, rumo ao Canudos, em 2004 ainda tinha uma margem livre, desimpedida de barracas, casas e ocupações irregulares. No pé da calçada o rio já batera tantas e tantas vezes, em boas cheias.

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A chata de Zé Migué, do Mocambo, no porto de cima do Mato da Onça, na barra do riacho. Com a Iris Raiane, as duas derradeiras da margem.

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A igrejinha do Munguengue, abaixo de Traipu, na boca do sertão.

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O ano de 2004 acaba com a exibição itinerante do documentário O Rio das Mulheres – Pelo Olhar de Ivaneide. No Munguengue, abaixo de Traipu, a igrejinha seria o local de exibição. Seria uma das melhores temporadas do projeto Cine Beira Rio. Ainda não havia internet pelas margens, telefonia celular, televisões precárias. As projeções eram um acontecimento.

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No povoado Niterói, ainda no sertão de Porto da Folha, a exibição do Rio das Mulheres na escola rural da comunidade.

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Também no Bonsucesso, cinema na rua era algo que chamava o povo.

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Dezembro finda com a derradeira parada do Cine Beira Rio, no Cabeço, já deserto de seu povo – instalado precariamente no continente, no Saramém.

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2005

O ano começa com novo reponte do rio, quando, seguindo o padrão de operações de barramentos, os vertedouros foram abertos rapidamente, como em 2003 e 2004. Ainda que com todos os problemas advindos do modelo operacional, sem aviso, sem preparo, a visão do rio cheio, as águas ocupando seu devido lugar, era magnífica, como do alto do Cristo, em Pão de Açúcar, mirando de rio abaixo.

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Por um breve tempo, poucos dias, o rio reocupou a grande lagoa dos fundos de Pão de Açúcar que, nos tempos de rio não regularizado, ficava, nas cheias, completamente ilhada.

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A presença da água em seus espaços naturais era uma situação que provocava euforia nas pessoas ao longo das margens.

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Desde o enchimento de Xingó, quando ocorrera a derradeira maior vazão do rio, que a água não atingia as rampas da cidade.

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As lanchas engajadas nas navegações de médio curso, da sede do município para os povoados, ainda razoavelmente ativas, podiam, depois de anos e anos, topar com suas proas o beiço da cidade.

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Para quem ocupou o leito do rio, por conta e risco – e sob a aquiescência do poder público – a fala geral era o “não reclame, não, fez casa dentro do rio porque quis…”

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No Cabeço, na foz, os derradeiros moradores na segunda mudança de local do povoado desde a destruição pelo avanço do mar, ainda resistiam da partida definitiva para outras bandas, em terra firme.

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Mesmo ali ficando, era consciente para cada um de que o futuro não contemplaria uma mudança no avanço do mar que, dia após dia, avançava gradativamente, mais ligeiro nos invernos de ventos de sul mais fortes.

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Na linha da costa, a restinga perdia seu espaço para a pancada do mar, o farol ficando cada dia mais longe da ilha do Arambipe.

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Mas os finais de tarde no pontalete, no Pela Pau, perfeitos, a água ainda mais doce que salgada, podia ser bebida, barcos de retorno do mar, calmo, a areia ainda morna, boa de se jogar.

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Em terra, à espera do retorno ao mar, amanhã, depois, um dia qualquer, quando der.

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Desde o início da atuação da Sociedade Canoa de Tolda no Baixo São Francisco, estamos realizando o registro fotográfico da vida ao longo das margens e da zona costeira da região. A partir de então, foi montado acervo que, atualmente, é composto por cerca de oitenta mil imagens produzidas unicamente pela Canoa de Tolda. A essa coletânea temos ainda inúmeras fotografias cedidas por colaboradores, parceiros ou ainda adquiridas em outras fontes.

Como referência aos vinte anos da Canoa de Tolda em seu movimento completados em 2018, serão publicadas matérias em série com seleção das imagens mais significativas desde os idos de 1997.

Nota – Algumas imagens mais antigas foram produzidas a partir de fotografias em suporte analógico e não tiveram, na época, digitalização adequada, comprometendo a qualidade do registro. Ainda assim, optamos em apresentar as imagens, pelo valor documental sobre como se vive (ou vivia) ao longo do Baixo São Francisco. Esse material está em processo de recuperação.

Imagem em destaque no topo – Da ilha dos Prazeres, na boca do rio Ipanema, o povoado Barra do Ipanema, Belo Monte, AL – Foto |  Canoa de Tolda © 2019