Em 2015, as vazões a jusante de Xingó seguiam uma gradativa e consistente curva de redução (desde o início de 2013 o sistema de barramentos operava com vazões abaixo dos 1.300 m³/s estabelecidos pelo Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco) provocando a piora acelerada do quadro socioambiental do Baixo São Francisco, que já sofria os graves efeitos de sua regularização desde a construção de Sobradinho (final de 1979, início de 1980).

A situação, fruto principalmente de um sistema de gestão dominado pelo setor elétrico, que impõe seus modelos de operações de barramentos, provocou a aceleração da expansão de bancos de vegetação aquática (as chamadas macrófitas, já presentes há anos na bacia sem qualquer ação efetiva para seu controle ou erradicação) exóticas (não nativas da região) invasoras que, por sua vez, forneciam condições e suporte favorável à ocorrência de algas verdes, organismos de rápido crescimento.

Naquele ano, sobretudo favorecidas por temperaturas particularmente altas, que também aqueciam a água, a invasão das vegetações e algas teve um avanço considerável e consolidaram sua instalação e ciclos biológicos em todo o Baixo São Francisco.

Tando as macrófitas exóticas invasoras (em particular as elódeas, as chamadas rabos de raposa, localmente) como as algas, afetam de inúmeras formas a qualidade da água, comprometendo o acesso da população difusa do Baixo São Francisco à água potável.

Nesta matéria são apresentadas imagens que mostram o real problema da invasão de algas e vegetação exótica para as populações, para os organismos vivos do rio, camuflados pelos coloridos efeitos visuais, de algas, vegetação, águas alteradas: efeitos na verdade altamente danosos para as populações humanas, e letais para os diversos ecossistemas aquáticos do Baixo São Francisco.

Rede InfoSãoFrancisco

Publicado em 22 de maio de 2019

2015

Tendo com base a canoa de tolda Luzitânia, a Canoa de Tolda realiza, sempre que possível, viagens de monitoramento do quadro socioambiental (sobretudo a partir das regularizações com vazões reduzidas em 2013). Nas margens, a medição simples das variações de espelho d’água, verdadeiras marés (horárias, diárias, totalmente controladas pelo setor elétrico)  provocadas pela operação da barragem de Xingó de grande impacto em todo o baixo São Francisco>

Imagem | Canoa de Tolda

Em 2015, durante uma das “marés” de maior amplitude da barragem de Xingó, a Luzitânia permaneceu encalhada por alguns dias no Mato da Onça.Em seu local de atracação da época, é visível que, com a variação do espelho d’água, há o depósito de massas consideráveis de elódeas (a principal vegetação exótica invasora) e algas que expostas ao sol, apodrecem, contaminam as margens.

Imagem | Canoa de Tolda

A água nas zonas é, naturalmente, impactada pelo processo de decomposição, que compromete o acesso à água por parte das populações ribeirinhas. Ao mesmo tempo, a vegetação e alga decompostas, fornecem mais alimento para os organismos invasores, acelerando o ciclo de expansão.

Simultaneamente, a vegetação invasora da zona úmida de transição (atenção: a zona não é zona ripária, ciliar, trata-se de leito do rio secado submetido aos resultados do processo das oscilações de água a partir das operações de barramentos), com a faixa fertilizada pela massa de material orgânico, avança rio adentro.

Imagem | Canoa de Tolda

Aproveitando a luz solar, a temperatura mais alta, os bancos de vegetação e de algas agregadas, formam faixas que chegam a cerca de 100 m de largura em vários trechos, desacelerando ainda mais a correnteza já bem fraca. O convívio das pessoas com o rio se mostra cada vez mais difícil, mesmo para um simples banho, algo até então tido como fundamental nas manhãs, ao cair da tarde.

Imagem | Canoa de Tolda

Junto com as algas e vegetação invasoras, outros organismos, como diversos tipos de moluscos, sobretudo caramujos em quantidade, proliferam, morrem, e engrossam a massa de material orgânico estranho ao rio.

Imagem | Canoa de Tolda

É particularmente repulsiva a massa de algas em fermentação, com péssimo odor, além de provocar reações cutâneas e contaminar a água até antes das reduções de vazão, ainda com qualidade razoável.

Imagem | Canoa de Tolda

E a expansão dos invasores é incontrolável.

Imagem | Canoa de Tolda

Os peixes, camarões, pitus, desapareceram.

Imagem | Canoa de Tolda

Locais onde há pouco tempo atrás contavam com correnteza forte, calado, hoje são terra exposta (leito exposto), ou água parada, contaminada.

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A montante do povoado Bonsucesso, o canal entre a ilha do Belmonte e a margem sergipana, por onde tantas vezes embarcações de porte maior, como a Luzitânia, ainda passavam até o início de 2013, mesmo com embarcações miúdas é de difícil passagem.

Imagem | Canoa de Tolda

Imagem | Canoa de Tolda

As águas desertas, vazias, são a prova incontestável do caminho para o fim do rio São Francisco.

Imagem | Canoa de Tolda

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São quilômetros e quilômetros de faixas de massa em decomposição, de zonas quase mortas, onde apenas alguns organismos com extrema resistência ainda sobrevivem.

Imagem | Canoa de Tolda

Imagem | Canoa de Tolda

Imagem | Canoa de Tolda

O problema foi por diversas vezes denunciado para os órgãos gestores das águas do São Francisco que, bem apoiados pelo silêncio e omissão das sociedades, estados e municípios sergipanos e alagoanos, ignoram até o presente a grave situação.

Imagem | Canoa de Tolda

Torrando ao sol, as algas e vegetações gratinadas são o prato perfeito para toda a sorte de organismos nocivos e para a quebra do direito de acesso à água de qualidade.

Imagem | Canoa de Tolda

Imagem | Canoa de Tolda

As verdes e perigosas águas paradas, mornas, é o que cabe à uma grande parcela da população espalhada pelas margens.

Imagem | Canoa de Tolda

Perigosas águas, também, para os ecossistemas nativos que não resistem à tamanha e crescente agressão dos invasores.

Imagem | Canoa de Tolda

Imagem em destaque no topo – Zona de água infestada com algas, com grande parcela em processo inicial de decomposição – Imagem | Canoa de Tolda