Chatas

Navegando em águas paralelas e consideradas as irmãs menores das canoas de tolda, as chatas, embarcações de porte imediatamente inferior, foram igualmente importantes nas navegações de longo curso no Baixo São Francisco, integrando o alto sertão e a zona da praia.

Inteiramente abertas e com mastreação mais simples, porém não menos sofisticada, tinham capacidade menor apesar da ocorrência de chatas de grande porte como a Jordânida, do famoso Chico de Guilherme, ou a Nova Índia. Mais baixas, mais estreitas, com menor comprimento, as chatas utilizavam diversos componentes similares aos das canoas de tolda, como as bolinas externas triangulares, mesmo tipo de leme (comprido ao extremo, com baixo calado, permitindo a navegação e o governo em zonas de pouco calado) e o sistema de escotas (simplificado) para o controle das velas.

Pelo fato das canoas de tolda terem vindo a ser consideradas as “rainhas” da margem , as chatas  talvez atraíram menos os olhares de fotógrafos no início do século vinte. Portanto, são poucos os registros deste tipo de embarcação para que possamos ter mais informações sobre sua evolução. No entanto, a incorporação das bolinas laterais, leme, sistema de escotas (acima citados) deixa claro que significava um avanço tecnológico diretamente influenciado pela adoção dos traquetes nas canoas de tolda e o conjunto de itens para suas manobras.

Sua mastreação, com dois mastros flexíveis e finos (em geral de golandim, madeira flexível e resistente) com dois panos panos chamados de latinos, mantinha a repartição de áreas tradicional do Baixo São Francisco: mastro de proa extremamente avançado, apoiado na volta do rombo de proa, e mastro de popa bem a ré, no início do convés da popa. Esta armação era de manobra mais fácil do que os traquetes da canoa de tolda.

O processo construtivo do casco das chatas, como nas toldas, seguia o padrão de cascos espessos, cavername e rombos de proa e popa em braúna, sempre que possível. Para manter a integridade do casco, tirantes em barras redondas de ferro (como vergalhões) eram dispostos transversalmente em diversos pontos (também as canoas de tolda contavam com este sistema, diga-se) evitando-se assim o arreganhamento do casco.

Como as toldas, o ciclo de vida das chatas seguiu exatamente a linha dos ciclos econômico e ecológico (o fim das cheias com a barragem de Sobradinho, em 1979/80) com seu apogeu e término simultâneos.

No início dos anos 2000, apenas as chatas Iris Raiane, sessenta sacos, de Tonho de Rosa do Bonsucesso e a de Zé Migué, do Mocambo, ainda navegavam, transportando carvão entre o sertão e Propriá.

No inicio do século 21, a chata Iris Raiane, de Tonho de Rosa, do Bonsucesso, era uma das duas únicas remanescentes, sendo a maior. Imagem | Canoa de Tolda

Atualmente, a Iris Raiane se encontra no povoado Tibiri, nas mãos de Pedro Carpinteiro da Capivara, aguardando a possibilidade de restauro. A chata de Zé Migué, recuperada, ainda navega e tem seu porto no povoado quilombola Mocambo, Porto da Folha, SE.

Há alguns anos, a prefeitura de Piranhas, AL, promoveu a construção de uma pequena chata  que se encontra no porto de Piranhas.

Como uma das ações do Projeto Embarcações do São Francisco da Canoa de Tolda, é previsto o levantamento, elaboração de plantas digitais e físicas e modelo em escala 1/20 da chata Iris Raiane

CHATAS EM MAIS DETALHES

Imagem do topo – chata em Penedo, AL – Stivan Faludi |acervo IBGE

LEIA TAMBÉM