Jangadas de Aninga

Jangada de aninga no riacho da Mutuca, Brejo Grande, SE. Imagem | Canoa de Tolda

A jangada de aninga é um surpreendente exemplo da durabilidade (sempre por força da necessidade: a embarcação nasceu, antes de tudo, como um objeto com o propósito de levar uma pessoa de um local a outro sobre as águas) de uma tecnologia naval milenar convivendo com o século 21.

A aninga é uma planta da faixa ripária que, no Baixo São Francisco, é encontrada na região estuarina da foz do São Francisco, em ambas as margens, e tem como característica a grande flutuabilidade de seu caule (o caule é redondo, cônico e extremamente leve). Ao se organizar um feixe de caules (como pequenos toros), tem-se uma plataforma simples com grande capacidade de carga. Com um instrumento cortante  e um perfurante (no presente, respectivamente uma faca e uma ponta de vara afiada) é possível a rápida construção de uma jangada em poucos minutos, sem qualquer outro ferramental ou elementos de fixação (pregos, cordas, etc.).

Cerca de uma dúzia de toros de aproximadamente, 1,70 m, em duas camadas, são suficientes para a construção de uma embarcação que suporte o peso de um homem médio. A construção da embarcação é uma tarefa que leva menos de uma hora para uma pessoa treinada e segue os principais passos: a escolha das aningas; o corte dos toros; a escolha, corte e apontamento dos “espetos”, varas de caules de plantas mais densas, duras, que serão a amarração/estrutura básica do conjunto; a montagem das duas camadas de aningas.

Estas jangadas ainda são ocorrentes na região de Brejo Grande, SE, sobretudo nos riachos dos Bagres, Mutuca e Praúna, onde seu uso é aplicado na travessia dos mesmos, sobretudo por pescadores locais (de camarão de água doce, com covos nos riachos e de guaiamuns).

Trata-se de um objeto a caminho da extinção não só pela perda do conhecimento de sua construção, mas também pela mortandade da matéria prima, a aninga, provocada pelas mudanças da salinidade na água em grande elevação (sobretudo a partir da regularização do rio abaixo de 1.300 m³/s).

A montagem das camadas da jangada segue a conicidade dos toros de aninga. Imagem | Canoa de Tolda

Na versão documentada foi utilizada uma corda para ajudar na amarração. Imagem | Canoa de Tolda

Imagem do topo – A canoa de tolda Luzitânia no Curralinho, 1998 – Acervo Canoa de Tolda

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