EMBARCAÇÕES DO BAIXO SÃO FRANCISCO

O Projeto Embarcações do Baixo São Francisco é voltado para a perpetuação das informações/características das principais embarcações tradicionais [1] do Baixo São Francisco de modo a permitir, a qualquer momento no presente ou no futuro, que possam ser construídas réplicas precisas das mesmas.

A Origem 

A inciativa tem sua origem no final dos anos 1990, quando ocorreram os primeiros contatos com a canoa de tolda Luzitânia   (uma das duas únicas remanescentes das tradicionais embarcações cargueiras do trecho baixo do rio São Francisco), ainda precariamente navegando na carreira entre Propriá e o alto sertão com cargas de lenha e carvão de madeira.

A canoa de corrida Madonna, de Piaçabuçu, AL, é uma das embarcações selecionadas pela iniciativa. Imagem | Canoa de Tolda

O conhecimento da Luzitânia e o entendimento de sua importância como o último elemento de uma linhagem secular de tradições e tecnologias navais além oceanos, promoveram a constatação do quadro terminal da navegação tradicional na região. Ficou clara a relevância do Patrimônio Naval do trecho baixo do rio

São Francisco, tema que foi estabelecido, pela rapidez do desaparecimento de seus elementos [2] e da pouca quantidade de informações disponíveis e/ou preservadas [3], como uma das prioridades de dedicação da recém fundada Sociedade Canoa de Tolda.

Desde então a Canoa de Tolda vem realizando, de forma ampla, inúmeras iniciativas e ações voltadas para salvaguarda do Patrimônio Naval do Baixo São Francisco abrangendo os temas: artes e tecnologias navais; as pessoas ligadas a barcos; navegações; vidas/organizações sociais de rampas, portos e estaleiros; navegações de longo curso; navegações costeiras; culturas e economias vinculadas às navegações.

Ao longo dos anos, limitações de recursos humanos e financeiros restringiram de forma significativa as ações da entidade. Tal situação permitiu apenas recentemente o início do Embarcações do Baixo São Francisco que prioriza o salvamento do que denominamos “DNA das embarcações tradicionais”: suas dimensões, técnicas de concepção e construção, materiais, decoração externa e interna. Enfim, todos os dados, informações e características – registrados ao longo de séculos unicamente de forma oral – que permitam a perpetuidade de um conjunto de conhecimentos, métodos e tecnologias no campo do Patrimônio Naval no Brasil.

Desta forma, exatamente como um depositário de DNA, embarcações extintas ou em situação de vulnerabilidade/extinção poderão ser replicadas a qualquer momento, mantendo suas características originais preservadas.

Objetivo Geral

Preservar o Patrimônio Naval do Baixo São Francisco.

Objetivos Específicos

1. Registrar, documentar e organizar as informações e documentação referentes às tecnologias e artes navais relacionadas ao Baixo São Francisco;

Com a canoa Madonna foram estabelecidos padrões de procedimentos para levantamento de dados das embarcações. Imagem | Canoa de Tolda

2. Selecionar embarcações tradicionais remanescentes para levantamento de elementos (dimensões, imagens, detalhes construtivos e estruturais) para inserção no banco de dados e digitalização das mesmas;

3. Realizar modelagem digital das embarcações levantadas para a geração de saídas nos formatos: Numéricos (para uso em sistemas digitais de impressão e ou usinagem 3D; Planos de Linhas (em qualquer escala) e viabilizar produção de Planos de Construção;

4. Montar coleção de embarcações relevantes em modelos físicos na escala 1/20.

Justificativas

1. Estado precário/risco de desaparecimento definitivo em curto prazo de embarcações remanescentes;

2. Descaracterização progressiva de embarcações remanescentes;

3. Desaparecimento das tecnologias e tradições das construção e arte navais do Baixo São Francisco;

4. Desaparecimento dos principais informantes (idade elevada) ligados à navegação: canoeiros, mestres, embarcados, etc;

5. Pulverização e precariedade da documentação física na região;

6. Inexistência de iniciativa(s) semelhante(s) para a região;

7. A urgência demandada pelo quadro;

O projeto Embarcações do Baixo São Francisco se enquadra nos objetivos do Projeto Barcos do Brasil (do qual a Canoa de Tolda é parceira), lançado em 2008 pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, através do DEPAM – Departamento de Patrimônio Material, na valorização, preservação e conservação do Patrimônio Naval brasileiro.

Veja na apresentação Embarcações do Baixo São Francisco abaixo, a íntegra das informações sobre a iniciativa.

Notas

[1] – As embarcações incluídas no Projeto são selecionadas a partir de uma série de parâmetros que as classificam com “embarcação padrão” para um determinado tipo.

[2] – As embarcações tradicionais, por inúmeras razões (veja Patrimônio Naval), desapareceram, ou se encontram em situação terminal, muitas já bem adulteradas, o que dificulta inclusive levantamento (medições, tomada de imagens) para que seja possível a montagem de um dossiê técnico de cada uma. Dossiê que irá gerar banco de dados que, por sua vez, possibilitarão a execução de Planos de Linhas e de Construção das embarcações selecionadas.

[3] – A construção naval no Baixo São Francisco teve sua evolução (e duração, enquanto possível) apoiada unicamente na transmissão oral dos conhecimentos de mestres carpinteiros navais para seus discípulos ou seguidores. A grande maioria já faleceu sem efetivos sucessores.

Imagem do topo – A canoa de tolda Luzitânia no pé da ilha de São Pedro, Penedo, AL – Acervo Canoa de Tolda

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