Daniele Bragança – Via O Eco / segunda-feira – 23 de setembro de 2019
Meta voluntária que o Brasil apresentou como parte dos esforços nacionais para cumprir o Acordo de Paris, a restauração de 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030 não é só possível, como pode ser um estímulo para a geração de empregos.
De acordo com matéria publicada no site O Eco, o trabalho de coleta de sementes, produção de mudas, plantio e manutenção pode gerar a criação de 200 empregos diretos para cada mil hectares em restauração com interferência humana, segundo relatório produzido em conjunto pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) e pelo Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS).
São 191 mil empregos diretos por ano no setor de restauração florestal: “Se o Planaveg (Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa) fosse implementado até 2030, a gente espera a criação de mais de 2 milhões de empregos até 2030 só pela restauração”, informa o ecólogo Renato Crouzeilles, que lidera o estudo. O Sumário para Tomadores de decisão sobre Restauração de Paisagens e Ecossistemas foi elaborada por 45 pesquisadores de 25 instituições.
Esse é o impacto econômico direto e mensurável. O que é mais difícil de precificar, embora a ciência econômica consiga fazer estimativas, são os serviços ecossistêmicos gerados pela recuperação de áreas degradadas. O retorno de polinizadores, por exemplo, que fornecem um serviço essencial para a agricultura. A proteção de nascentes de água, oferta de produtos florestais não madeireiros, como frutas e sementes.
“Com uma gestão integrada da paisagem, a gente busca que cada commodities seja colocada na área de sua maior aptidão, a pecuária fica na área de maior aptidão, isso permite que a restauração entre nas áreas marginais, sem competir com agricultura e pecuária e gere diversos benefícios ambientais e econômicos e o país tenha uma paisagem diversificada”, explica Crouzeilles.
Plantar florestas e frear o desmatamento
O sumário do relatório sobre restauração foi apresentado pelos três principais autores do estudo – Renato Crouzeilles, Ricardo Ribeiro Rodrigues e Bernardo Strassburg – no Museu do Meio Ambiente, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, há um mês. Os autores foram unânimes em apontar que a prioridade é manter preservados os remanescentes florestais nativos que sobraram em pé e reflorestar as áreas apontadas como prioritárias para a restauração. Mas se tiver que escolher entre uma e outra, frear o desmatamento faz mais sentido.
“Eu gosto sempre de frisar que a gente não pode usar a restauração para desviar a atenção da importância da conservação. Um hectare conservado é imensamente mais importante para as questões que a gente tem falado de clima, biodiversidade, etc, do que um hectare restaurado – no mesmo bioma e nas mesmas condições”, explica Bernardo Strassburg, diretor executivo do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) e um dos autores do sumário.
Desde 1985 o país perdeu 89 milhões de hectares de vegetação natural, uma média de 2,3 milhões de hectares por ano. Para importante dos fragmentos de floresta nativa se encontram em áreas privadas. A recuperação do passivo de reserva legal na Mata Atlântica, de aproximadamente 5 milhões de hectares, pode evitar até 26% de extinção de espécies (2.864 espécies de plantas e animais) e sequestrar 1 bilhão de toneladas de CO2 equivalente, segundo o relatório.
Para o professor Ricardo Ribeiro Rodrigues, da Esalq/USP, é importante lutar pela preservação de floresta nativa, mesmo que o fragmento seja pequeno e cercado de área produtiva.
“A restauração é complementar à questão da conservação (…). Nós não podemos nunca usar a restauração como perspectiva de desmatamento, de retirada de fragmentos. Nenhuma restauração chega perto de um fragmento remanescente, nem dos mais degradados que nós temos. Ela é melhor que a área degradada, mas certamente é muito pior do que qualquer fragmento”, disse.
Imagem em destaque – Infográfico via BPBES – Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos
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