Marilena Crispim – Via Agência EcoNordeste / terça-feira – 17 de setembro de 2019
Projeto de valorização de comunidades litorâneas do Ceará, em sua 9a. edição, terá também participação de grupos serranos e sertanejos.
Projeto de valorização de comunidades litorâneas do Ceará terá também participação de grupos serranos e sertanejos. Amelinha canta Belchior na abertura, no dia 22.
De ponta a ponta do litoral cearense, a Rede Sesc Povos do Mar encontra tradições, culinárias, danças, cantos, artesanato, desde a margem oeste, em Chaval, até o extremo leste, em Icapuí, convidando as comunidades praianas de 24 municípios a participar do importante projeto de socialização de práticas e saberes.
A 9ª edição Encontro Sesc Povos do Mar será realizada de 22 a 26 de setembro, e o 5° Encontro Herança Nativa, de 26 a 29 de setembro, recebendo diariamente, na Reserva Ecológica do Sesc, cerca de cinco mil pessoas, entre participantes e o público visitante. Neste ano, mais de duzentos povoados litorâneos e cerca de duzentas localidades das serras e sertão estarão representadas por seus moradores.
Quando os jangadeiros hasteiam as redes na regata e colorem a enseada de Fortaleza, é dado início a um dos maiores encontros culturais do Brasil dedicado aos grupos nativos das comunidades costeiras. Durante cinco dias, cerca de 400 representantes ficam hospedados no Sesc Iparana Hotel Ecológico. São mestres de cultura, rendeiras, pescadores, indígenas das 14 etnias do Ceará, grupos de tradição que se encontram para apresentar o que apenas os nativos conhecem: a sabedoria de quem tem a vida ligada ao mar.
Com mais de cem ações educativas na programação, o Encontro Sesc Povos do Mar será iniciado no domingo (22), às 18h, com apresentações de quatro grupos de Maracatu. Em seguida, às 20h, a cantora Amelinha faz show com repertório de músicas de Belchior. Nos dias seguintes, a programação se divide em cinco eixos, que contemplam diversos aspectos das relações comunitárias:
♦ Sabores, Saberes e Saúde ensina a culinária tradicional e inovadora, criada pelas famílias de pescadores, assim como a medicina popula
♦ Feito à Mão é dedicado ao artesanato, com a feira “Onde há rede, há renda”, que expõe peças de bilro, labirinto, crochê, louças de barro, entre outros
♦ Meio Ambiente e Sustentabilidade, com as experiências de preservação ambiental nos mangues e praias em destaque
♦ Cantos, Danças e Brincadeiras mostram folguedos como Castelos, Reisados, Bois, Pastoris, Coco, Caninha Verde, Maracatu, Calungas, Cassimiros e Mamulengos ainda existentes no Ceará
♦ Dragões do Mar homenageia os conhecimentos e habilidades dos mestres jangadeiros em suas embarcações
“Os temas são escolhidos para conhecer, valorizar e difundir práticas comunitárias de associativismo, assim como as relações colaborativas e de reciprocidade entre as pessoas, os coletivos e comunidades. Queremos evidenciar as relações de afetividade, de circunvizinhança, fortalecimento de processos identitários e identificação de memórias”, explica Paulo Leitão, consultor do Sesc para projetos especiais e um dos idealizadores do Encontro.
Sociabilidades
Ao visitar as famílias nas localidades e identificar o repertório de cada grupo, o Sesc reconhece a relevância da sabedoria popular. Neste projeto, realizado há nove anos, sempre com a coparticipação das comunidades convidadas, a instituição defende o potencial socioeducativo do convívio entre pessoas de diversas origens, seguindo princípio humanista do educador Paulo Freire.
Na localidade de Guajiru, em Trairi, os moradores recebem, todos os anos, o convite para integrar o Encontro Sesc Povos do Mar. A etapa de preparação desperta memórias, vocações e estreita os vínculos comunitários para mostrar tudo o que podem oferecer. No Encontro, as tapioqueiras como Rosenilda Dias Moreira ficam à frente da Casa das Tapiocas, resgatando o preparo rústico, com apenas quatro ingredientes: goma, água, sal e o coco. “Nossa tradição é a tapioca é o jeito como é feita, numa pedra”, explica.
Conhecida por realizar, todos os anos, o Festival do Camurupim, o Guajiru antecipa no Povos do Mar o preparo do peixe que pode chegar a mais de cem quilos e é assado em brasa durante mais de cinco horas. “Camurupim com grolado era o que a gente comia antigamente, e isto está se perdendo”, diz Rosenilda.
Os pescadores também ensinam em oficinas o ofício da pesca artesanal. Quando criança, uma das formas de renda era a coleta de algas marinhas, que eram vendidas para exportação. “Antigamente, as crianças apanhavam o lodo para ganhar um dinheirinho, secavam, vendiam e era exportado para o Japão” , recorda. Hoje, pessoas da comunidade dominam o cultivo, beneficiamento e produção de cosméticos feitos com algas e vendem seus produtos no encontro do Sesc, assim como os panos bordados e os doces feitos com o Guajiru, fruta nativa que dá nome ao lugar.
Novos agregados da serra, mar e sertão
Há cerca de dez anos, a Rede Sesc Povos do Mar era fundada com a participação de três grupos específicos: os moradores das praias de Caucaia, conhecedores da fitoterapia popular, que ensinaram a produção de lambedores, do óleo de coco, infusões com raízes, colorau, entre outros produtos naturais. Dois grupos da dança do Coco em Pecém e Iguape deram início a uma rede específica no Povos do Marda qual participam hoje 15 coletivos. Os barqueiros do Rio Ceará marcavam a relevância histórica da região da Barra do Ceará, bairro que completa 415 anos de fundação em 2019.
A cada ano a rede espraia-se mais para o Interior com a missão de conhecer os habitantes das serras e sertões e agregá-los a este coletivo de afirmação e valorização da memória social e patrimônio natural do Ceará.
Neste ano, os produtores de redes artesanais virão da cidade de Ibaretama mostrar o tear manual de tecelagem. Da mesma cidade, virá o fundador do Museu Tertuliano de Melo, iniciativa que guarda resquícios pré-históricos do Povo Tupi.
Da região serrana, participam José Alves Carneiro, mestre da cultura do Ceará, diplomado como Tesouro Vivo por seu conhecimento botânico das espécies na cidade de Pacoti. Os Kanindé, de Aratuba, vão mostrar a torra e moagem do café orgânico cultivado em seu território.
A cultura sertaneja é representada pelos artesãos do Centro de Cultura Popular Mestre Noza, localizado em Juazeiro do Norte; pela Dança de São Gonçalo, tradição quilombola da Serra do Estêvão, em Quixadá e pelos cordéis e xilogravuras da editora caririense, Lira Nordestina.
Novos movimentos de resgate da cultura regional se juntam ao Encontro, entre eles o Batuquê de Praia, de Paracuru, grupos de percussão que pesquisa as raízes do Coco de Praia e o Acervo Mucuripe, iniciativa de coleta bibliográfica e audiovisual sobre as memórias dos bairros da região leste de Fortaleza.
V Encontro Herança Nativa
Após o encerramento do Povos do Mar, no dia 26 é iniciado o V Encontro Herança Nativa, projeto do Sesc destinado aos povos originários vindos de 35 cidades do Ceará: indígenas, quilombolas, ciganos, sertanejos, povos de terreiro, dentre outros.
Todos os anos, jovens e anciãos realizam as Oficinas Saberes e Artesanias, guiam vivências, dialogam nos Círculos de Cultura e mostram tradições em apresentações socioculturais abertas ao público no Sesc Iparana Hotel Ecológico.
Acesse a programação completa do Encontro Povos do Mar aqui.
Artigo original da EcoNordeste – Agência de Conteúdo
Imagem em destaque – Regata de jangadas – Jr. Panela | Via EcoNordeste
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