Redação / domingo – 03 de novembro de 2019

Mesmo tendo sido aproveitadas as vazões um pouco maiores (desde o último dia 23) para o deslocamento da embarcação para local próximo da docagem, ainda é necessária nova movimentação para o local da manutenção.

Na semana passada foi veiculada a manobra preliminar realizada com a canoa Luzitânia para local muito próximo (cerca de 16 metros) do ponto onde deverá ser docada para a realização de manutenção.

O movimento com a embarcação aproveitou as operações de barramentos (a jusante de Sobradinho) que tiveram vazões um pouco aumentadas a partir do dia 23 passado. No entanto, o nível do espelho d’água não foi o suficiente para que a Luzitânia pudesse ser alinhada no ponto preciso onde ficará apoiada durante o tempo de sua grande manutenção.

A marca do pico da vazão no dia 23 de outubro, quando a Luzitânia foi removida para as proximidades do local da manutenção. Foto | Canoa de Tolda

A manobra final depende, portanto, de pico de vazão a ser promovido em espaço de tempo curto (cerca de uma hora e trinta minutos no máximo são necessários para a manobra de transferência dos calços a partir do momento da flutuação da embarcação; ajuste dos mesmos; realinhamento da canoa; e consequente encaixe da mesma sobre os calços, com o nível decrescendo).

Para a manobra, a necessidade de água em patamares relacionados à navegação anterior a 2013

Para a etapa final da retirada da Luzitânia da água, foi encaminhado à ANA – Agência Nacional de Águas, novo ofício (CT027/2019 – protocolo ANA 02500.072164/2019-41 ) referente à manobra, ( em junho passado o órgão já havia sido prevenido pelo ofício CT015/2019 – protocolo ANA 02500.037881/2019-27) alertando da necessidade de incremento de vazão.

Atendendo ainda à solicitação da CHESF – Companhia Hidroelétrica do São Francisco, foi encaminhado à empresa o ofício CT031/2019 com todos os detalhes de localização, variações de nível, distância a ser percorrida, e outros, para a simulação do pico da vazão.

A distância a ser vencida: 16,00 metros até o local de encalhe para a manutenção. Foto | Canoa de Tolda

É importante mencionar que o nível de espelho d’água solicitado não se trata de algo extraordinário, como uma suposta e mal denominada “enchente”, qualificação inadequada que frequentemente é citada na mídia para eventuais acréscimos de vazão que são essenciais para a manutenção de padrões minimamente aceitáveis de qualidade de água.

Em resposta à solicitação, a ANA comunicou que o tema do incremento de vazão para a operação de docagem será ponto de pauta da reunião de amanhã (via vídeo conferência) do chamado acompanhamento das condições de operação do Sistema Hídrico do Rio São Francisco.

Entenda o caso da a conservação da Luzitânia

Como qualquer embarcação ativa e, ainda mais, pelo fato de ser um objeto histórico tombado pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a canoa Luzitânia para sua perfeita conservação, é objeto de ações permanentes de manutenção.

Após cerca de quase dez anos de restauro extremamente preciso, a Luzitânia teve restabelecidas suas características originais e hoje pode ser considerada um elemento particular relacionado ao Patrimônio Naval da Bacia do São Francisco.

A cota de nível de espelho d’água necessária: cerca de mais 900 mm acima do praticado no dia 23. Foto | Canoa de Tolda.

Na operação que se apresenta, o IPHAN, através do DEPAM – Departamento de Patrimônio Material, em Brasília, foi envolvido nas tratativas que também estão sendo acompanhadas pela Marinha do Brasil, através da Agência Fluvial da Capitania dos Portos de Alagoas em Penedo.

A manutenção que será aplicada à Luzitânia nas próximas semanas é fruto de acordo de cooperação técnica com o IPHAN, através da Superintendência em Sergipe, algo inédito desde que a embarcação teve sua notificação de tombamento em 2008.

Além de ser o mais antigo bem móvel relacionado às navegações tradicionais no Baixo São Francisco anteriores à regularização (Sobradinho começa a operar em 1979/1980), a Luzitânia também é utilizada para atividades de monitoramento do quadro socioambiental e de navegação no Baixo São Francisco. Desde sua aquisição pela Canoa de Tolda, a proposta clara de recuperação da embarcação seria de manter a mesma em condições de navegação e não como um objeto estático para exposição como em um museu.

A manutenção atual é urgente, pois foram identificadas algumas infiltrações de água no casco que exigem cuidado diário para a retirada de água (o sistema de bomba de segurança, com mais de dez anos de uso, está inoperante há algum tempo e será substituído) de modo a evitar o alagamento da embarcação.

A manutenção da Luzitânia é inadiável. A permanência em terra, irreversível. Foto | Canoa de Tolda.

A retirada da Luzitânia da água na semana passada, ainda que de modo incompleto, se apresenta como algo irreversível. Há ainda que se considerar que pelo calor excessivo, os trabalhos devem ser iniciados o quanto antes, para que a canoa não fique por demais exposta ao sol, o que pode comprometer as colagens de seu casco pelas variações da madeira, ainda que encapsulada em epóxi. Os reparos são necessários, assim como verificação geral de todos os itens estruturais e componentes da embarcação, algo que não é realizado, por falta de recursos, desde 2014.

♦ A conservação da canoa Luzitânia é uma iniciativa permanente da Canoa de Tolda.

Imagem em destaque – A Luzitânia no porto da Reserva Mato da Onça. Foto | Canoa de Tolda

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