Neste primeiro dia do mês de março, a canoa Luzitânia está perto de um mês em situação de encalhe involuntário às margens da RMO – Reserva Mato da Onça (Unidade de Conservação
situada no povoado Mato da Onça, municipío de Pão de Açúcar, AL), no alto sertão do Baixo São Francisco.

A situação foi provocada por uma drástica redução da vazão regularizada do rio São Francisco a jusante de Sobradinho, em seguida a CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco ter
anunciado que a vazão seria mantida em cerca de 800 m³/s (oitocentos metros cúbicos por segundo) até o mês de maio (operação comunicada pela CHESF, anunciada pela própria ANA e divulgada pelo CBHSF – Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco).

A canoa de tolda Luzitânia, embarcação tombada pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (veja a portaria de tombamento aqui), estava em processo de desmontagem para uma grande revisão desde seu retorno às águas do São Francisco em fevereiro de 2007. Os trabalhos de manutenção seriam executados em terra, no anexo da RMO, para verificação de todo o casco e reparos em alguns pontos sensíveis onde havia risco de abertura de infiltrações de água, além de pintura geral externa.

A Luzitânia sobre o leito seco do rio é a evidência do desastre que são as operações de barramentos. Imagem | Canoa de Tolda.

Ao ter início a operação com os 800 m³/s a canoa Luzitânia teve seu ponto de fundeio modificado, deslocado em direção à linha da margem, para não ficar exposta às ondulações do vento e também aos extensos bancos de algas verdes e vegetação invasora que estão em acelerada expansão (estes bancos são uma espessa massa vegetal de mais de metro de espessura, pesando centenas de quilos e podendo comprometer a segurança da atracação da canoa).

Com a redução da lâmina d’água, sem calado para flutuar, a Luzitânia ficou apoiada em terra, ainda em zona molhada, com alguns poucos centímetros de água. Situação que é de risco para a integridade da embarcação por ficar com parte de seu casco exposta às altas temperaturas, o que pode fraturar as colagens entre as peças do taboado.

A ANA – Agência Nacional de Águas foi alertada através de ofício protocolado em seu sistema eletrônico, ao mesmo tempo que tendo solicitação para incremento de vazão que permita a retomada da flutuação da canoa Luzitânia para sua remoção para ponto seguro.

Da mesma forma o IPHAN – Instituto do Patriônio Histórico e Artístico Nacional foi alertado (diretamente ao DEPAM – Departamento de Patrimônio Material, em Brasília, e responsável pelos bens materiais em todo o país além das superintendências em Sergipe e Alagoas) para que intercedesse no caso, pela situação de risco de avarias no casco da canoa Luzitânia.

Desde que as operações de barramentos começaram a praticar vazões regularizadas abaixo de 1.300 m³/s (mil e trezentos metros cúbicos por segundo), no início de 2013, é a segunda vez que a canoa Luzitânia é submetida a encalhe involuntário em razão de variações abruptas de vazão.

Até a publicação desta matéria nenhum dos órgãos sem manifestou a respeito.