Da primeira e marcante visão da canoa Luzitânia em dezembro de 1997, são vinte essenciais anos de convivência com a embarcação símbolo do Patrimônio Naval do Baixo São Francisco.

Prossegue, nesta segunda parte, um pouco da história da Luzitânia após sua aquisição pela Canoa de Tolda.

Carlos Eduardo Ribeiro Junior

Publicado em 25 de março de 2019

2000

A situação crítica da Luzitânia, com o risco de ser perdida em um naufrágio ou literalmente se desmanchar, foi motivação básica para colocá-la em terra.

Imagem | Canoa de Tolda

Quando ainda na água, o esgotamento tomava horas e horas ao longo de todo o dia. Muito dificil manter a canoa flutuando. Uma peneira.

Imagem | Canoa de Tolda

Com os cepos (calços) fornecidos por seu Tonho de Frito, do Bonsucesso, a Luzitânia é preparada para ficar no alto, o que garantirá maior preservação.

Imagem | Canoa de Tolda

Já nos calços, levantada com os mastros (agindo como alavancas) a Luzitânia em terra se incorpora à paisagem do beiço do rio no Mato da Onça e se torna um ponto de enconro, de prosas

Imagem | Canoa de Tolda

Ao final de 2000, em dezembro, o encontro com Mestre Nivaldo, no Bonsucesso, onde estava na peleja trocando peças da chata Iris Raiane de Tonho de Rosa. Ali, no beiço do rio, foi acertada a empreita para o restauro da Luzitãnia. As pilhas de carvão nas margens de toda a região eram o exemplo de uma devastação de peso, sem qualquer controle.

Imagem | Canoa de Tolda

2001

Em meados de 2001, tendo obtido algum recurso, a Canoa de Tolda prossegue com mais uma etapa do restauro da Luzitânia. Mestre Nivaldo, da Ilha do Ferro (povoado abaixo do Mato da Onça) é contratado e o primeiro passo é a moldagem dos gabaritos para a busca de cavernas.

Imagem | Canoa de Tolda

Com vergalhão liso de 15 mm, Mestre Nivaldo vai moldando as casas (pares) de cavernas, dando prioridade às maiores (da zona mais larga da canoa), as mais difíceis. Com uma marreta pequena, bate aqui, um pouco acolá e assim vamos montando o primeiro conjunto de moldes

Imagem | Canoa de Tolda

A partir daquele momento, e todos tinhamos a percepção do tamanho do rojão, seriam anos longos de convivência com o inesquecível Mestre Nivaldo Lessa, com Abel Aleijado, e a carcaça velha da Luzitânia, alimentando os sonhos das noites dormidas ali, na beira do rio seco.

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2002

Em meados de 2002, um avanço no trabalho de restauro da Luzitânia. No terreno de Avelardo, no beiço do rio, é montado um estaleiro provisório – que duraria anos… – com uma barraca de proteção. Tendo a madeira básica para a obra, além das cavernas, Mestre Nivaldo toca o rojão.

Imagem | Canoa de Tolda

Gradativamente, as casas de cavernas novas, já curadas após tres meses na água, e muito bem lavradas, vão tomando o lugar das antigas. É um trabalho delicado, pesado, porém a regra (a forma) da canoa não pode ser perdida. Ali, em terra, a bordo da canoa, vai sendo tocada a vida, trabalhando, dormindo entre as cavernas, ouvindo histórias inesquecíveis do inesquecível mestre, Nivaldo Lessa.

Imagem | Canoa de Tolda

A zona da proa da Luzitãnia era das mais comprometidas. E onde o trabalho seria mais complexo, para armar a tolda e a complicada estrutura que sustenta o mastro de proa.

Imagem | Canoa de Tolda

Para que não fosse perdida a “regra” (o formato) da canoa, as peças comprometidas da embarcação eram removidas, uma a uma para a progressiva substituição dos novos componentes. Trabalho preciso, impossível de ser feito com rapidez. 

Imagem | Canoa de Tolda

Com a canoa em terra, o estaleiro armado, a peleja diária, o local se torna um ponto de referência, de encontros. Pescadores na no final de tarde, aguardavam a boca da noite, ali, para subir para a Boca do Saco. Barqueiros velhos davam porto, para ver a canoa, trocar uma prosa com Mestre Nivaldo, ouvir a zoada da enxó, no meio da fumaça braba do pacaio fedorento. E a cavacada de madeira ia papocando, o pau virando volta, uma peça.

Imagem | Canoa de Tolda

A empreita é pesada. Pesadas peças, puxado rojão de transformação. O rombo de proa (roda de proa), peça estrutural que amarra todas as demais do taboado do casco, é das mais difíceis a serem executadas. Enxó, serrote, garlopa, machado: ferramentas únicas, dominadas perfeitamente por Mestre Nivaldo.

Imagem | Canoa de Tolda

A Luzitânia tomando sua forma, peças novas, lentamente, aproxima a visão da volta ao movimento na margem.

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